sexta-feira, 31 de maio de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LIII



O PRÍNCIPE CONSPIRADOR
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III. Pág. 212.
A atitude das Cortes de Lisboa em relação ao Brasil havia congregado os patriotas deliberados a emancipar a antiga colônia com ou sem o auxílio do Príncipe Regente. As combinações para isso marchavam céleres, multiplicando-se os emissários especiais entre São Paulo e Rio, estabelecendo ligações para o grande movimento libertador.
Incumbido, um dia, pelos patriotas da Corte, de ir àquela província com uma mensagem verbal aos conspiradores, o capitão Pedro Dias Pais Leme, que foi mais tarde marquês de Quixeramobim, entendeu no seu dever, de caminho, passar na Quinta da Boa-Vista, e, como amigo do príncipe, narrar-lhe o que se tramava.
D. Pedro ouviu, calmo, a narrativa, e, ao fim, em vez de agradecer-lhe ou dar-lhe qualquer ordem, pôs-se a falar de viagens e caçadas. Até que, por certa altura, chegando à janela, começou a olhar o horizonte, no rumo do sul. E apontando-o a Pais Leme:
- Que belo dia para se viajar!...
O oficial compreendeu tudo. Beijou, comovido, a mão do Príncipe, desceu rapidamente as escadas, montou a cavalo, e partiu a galope.
JUSTIÇA DE FUNIL
Anais do Senado, 1895.
Sessão de 31 de maio de 1895, do Senado. Na tribuna, atacando o governo, o sr. Coelho Rodrigues lembra aos seus colegas republicanos que na monarquia, ele, orador, não poupava o soberano, toda a vez que este se desmandava. E cita, entre outras, esta frase daquela época:
- "O direito é o mesmo, ou não existe".
E concluindo:
- "E a Justiça não é nenhum funil, com o lado largo para Sua Majestade e o estreito para nós!"
DECEPÇÃO
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 48.
Certo coronel mercenário, utilizado, como tantos outros, por Pedro 1 nos primeiros dias do Império, costumava gabar-se da amizade que lhe dispensava o Imperador.
- Quando eu morre - dizia ele, frequentemente, no seu português de alemão; - quando eu morre, lmperradorr chorra muito!
Um dia, durante um jantar entre camaradas em que todos haviam bebido em demasia, entenderam estes de tirar a prova daquela asserção, e mandaram um portador ao Paço, comunicar a Sua Majestade a morte do oficial.
Ao regressar o emissário, o coronel indagou, pressuroso e comovido:
- Imperradorr chorra?
- Não, senhor, - informou o encarregado da missão. - Quando eu lhe dei a notícia, Sua Majestade limitou-se a dizer: -"Pois que vá feder pra longe!"
DE "BODE LER"
Alberto Faria - Conferência na Academia Brasileira de Letras, em 1925.
Frequentador da casa dos Marianos, de que descende Alberto de Oliveira, conheceu Fagundes Varela, aí, um mulato pernóstico, de nome Teodorico. Aliteratado, o pardavasco pediu ao poeta que lhe emprestasse as Flores do Mal.
- Não posso, - recusou Varela, piscando os olhos azuis.
E sem a menor consideração:
- É de Baudelaire; não para "bode ler"!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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