quinta-feira, 2 de maio de 2013

BLUME



Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Com frequência (amiúde) ressaltamos a íntima relação entre Medicina e Literatura: “Há que ler, há que ler...” (12/11/2007), “Literatura para Médicos?” (11/3/2009); “1º UnimedLit” (22/6/2011); “Biblos” (15/8/2012); “Airton Monte” (10/8/2012); “Literapia (27/2/2013). Dia 1º último evidenciou-se novamente esta verdade: a produção literária ficcional dos médicos cearenses Foi inaugurada a Blume – Biblioteca Unimédicos Escritores, no Espaço Airton Monte, então também demarcado na sede da Unimed Fortaleza. O acervo dessa singular biblioteca foi disponibilizado pela Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames- CE).
Aludida coleção garantirá maior e constante divulgação de livros, não científicos, escritos por médicos. A Blume foi inaugurada com a prestigiosa presença do presidente da Academia Cearense de Letras, bibliófilo e historiador José Augusto Bezerra, do dr. Mairton Lucena, presidente da Unimed Fortaleza, do presidente do Instituto Unimed, dr. Rômulo Barbosa, da família do médico/escritor Airton Monte, e de inúmeros colegas. Sua instalação coincidiu com as comemorações dos 35 anos da Unimed Fortaleza (1978), inspirada no cooperativismo pioneiro dos 28 tecelões de Rochdale (Inglaterra), em 24/X/1844, liderados por Robert Owen.
Segundo o colega Luis Aires, em Cooperativismo médico no Ceará (Editora Premius, Fortaleza, 2009) o movimento aqui foi capitaneado pelos drs. Turbay Barreira e Carlos Augusto Studart, tendo o dr. Almir Pinto sido o primeiro presidente da Unimed Fortaleza. Do acervo inicial constavam 747 exemplares, de 38 autores, com 133 títulos, entre eles 44 de poesia. Este último expressivo número explica-se pela prioridade mundial da poesia como extensão da linguagem e gênero literário, surgindo como canção nos ritos tribais, entoada por declamadores ambulantes, menestréis.
Desses, o mais importante foi Homero, da Ilíada e da Odisseia, escritos no 6º século a.C. Para Homero, os poetas foram os primeiros professores da humanidade. Decorreram várias centúrias até os gregos começarem a recolher trabalhos em prosa, principalmente biográficos e histórias baseadas em mitos. Assim, citando o famoso colega inglês Sommerset Maugham (1874 – 1965), autor de Servidão Humana (1915) e Fio da Navalha (1944), a poesia é a coroa da literatura, e os escritores de prosa devem afastar-se para os poetas passarem.
Baudelaire (Charles-Pierre: 1821-1867), um dos maiores poetas, do século XIX, aconselhava aos escritores: “Sejam poetas, mesmo em prosa”. Embora seja mais fácil dizer o que não é, do que defini-la, a poesia difere da prosa principalmente por possuir maior carga de energia emocional. Isto é a Literatura, um estado de cultura, importante pábulo (alimento) do médico humanista.
O eminente professor Clementino Fraga lembrou a máxima (ou aforismo) de Guido Bacelli, já de foro clássico: “Medicus non literatus, non medicus nec literatus” (Medicina e Humanismo. Ed. Guanabara, RJ, 1942). Viva, pois, o vício imune da leitura. Afinal, somos o que lemos.
(*) Médico e secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 24/04/2013.

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