Por Ricardo
Alcântara (*)
De
onde menos se espera... é de lá que realmente não vem coisa nenhuma! Estão nas
páginas dos jornais as sábias declarações de Ciro Gomes para provar que, de
fato, um dito popular pode ter seu sentido invertido sem prejuízo da verdade.
Sua
contribuição para amenizar as tensões entre a corporação militar e o comando do
governo é o emblema da imprudência. Se os policiais quiserem mesmo tocar fogo,
já sabem onde estocaram a gasolina: na saliva do irmão. E logo o mais velho!
Como
não consta no Diário Oficial nomeação sua para cargo de confiança, a ameaça de
“cortar cabeças” comunica à sociedade a existência de uma modalidade danosa no
exercício do poder, excessivamente informal para uma situação de crise.
Quando
mais evidenciada deveria estar a autoridade eleita e personificada na figura do
governador do Estado, é sua fragilidade o que sugere a intervenção carbonária
de quem ameaça punir sem as necessárias prerrogativas institucionais.
Mais
do que aos (ilegítimos, segundo ele) líderes do corpo policial, o destempero
contumaz do primogênito afronta as generalizadas expectativas dos cidadãos, já
suficientemente alarmados pela inoperância dos serviços públicos de segurança.
Se,
mesmo operando no modo diletante, Ciro Gomes se declara com poderes para
“cortar cabeças”, saiba ele que, nas circunstâncias atuais, a população aguarda
das partes envolvidas exemplos minimamente responsáveis de diálogo e
conciliação.
Do
contrário, não é improvável que, uma vez mais e com sérios danos à ordem
pública, volte a população a olhar com simpatia para atos impróprios de quebra
de hierarquia, solidária com quem não viu reconhecida a relevância de suas
tarefas.
Ao
vereador e capitão Wagner, Ciro Gomes dirige acusação que, caso procedente,
merece apuração com rigor exemplar, mas não deveria ser manifestada sem a
apresentação de algum indício: acusa-o de conluio com quadrilhas de
traficantes.
Um
aspecto positivo: de público, o primogênito se declara isento do uso de drogas
– sim, porque usuários de drogas não têm condições morais de apontar o dedo na
direção de traficantes, pois a eles é que dão sustento. Boa, Ciro! Então, somos
dois.
A
réplica do acusado não foi menos inquietante: os verdadeiros bandidos estariam
na cúpula da polícia e deu como exemplo o suposto envolvimento do coordenador
de Inteligência com nada menos do que grupos de extermínio. Enfim, haja lenha.
Enquanto
isso, nós, as famílias que sustentamos a todos eles (menos ao Ciro, que não tem
mais profissão definida), fazemos o quê, além das nossas orações? Quem se
mostrar mais sensível a isso terá maiores chances de vencer a queda de braço.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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