Por Ricardo
Alcântara (*)
São
Paulo é um país dentro de outro: um terço do PIB brasileiro está lá. Seu perfil
econômico faria dele um país mais rico do que algumas nações da Europa. Há
apenas um ou outro país da América latina que ostente índices maiores.
O
Ceará é um estado pobre. Nossa insignificante participação na produção da
riqueza nacional é um problema menor: graves são os índices sociais, onde nosso
desempenho nos assemelha a emblemas da degradação como Haiti e Somália.
Separados
do Brasil, São Paulo seria integrado a um conjunto intermediário de nações do
hemisfério Norte, enquanto seríamos alojados nas regiões centrais do continente
africano. A renda per capita de um é oito vezes maior do que a do
outro.
Pois
o governo do Ceará conseguiu a proeza – e não me pergunte como – de gastar com
contratações de aeronaves somente nos últimos vinte meses 22,3 milhões de
reais, quase o dobro do que São Paulo pagou pelos mesmos serviços no período.
Quem
se deu às contas viu ali recursos suficientes para fazer duas mil e oitocentas
viagens de ia e volta ao Japão em aviões de carreira, o que, divididas no
período, dariam 140 ponto-a-ponto por mês para o outro lado do planeta, cinco
ao dia.
Assaltado
pela intemperança, no Ceará o poder de Estado se encontra adoecido de uma
perdulária megalomania. Pior: apoiada pelo silêncio nada inocente de partidos
que já representaram as melhores esperanças do povo brasileiro.
Como
não enfrenta quase oposição alguma, nem há no campo interno quem ouse iluminar
o ambiente autocrático com nenhum esforço crítico, os donatários da capitania
alencarina tecem seu discurso à margem da realidade por completo.
Em
entrevista recente, o homem bomba Ciro Gomes qualificou como “uma putaria” a
existência de 39 ministérios em Brasília sem, contudo, esclarecer que adjetivo
reservaria para as 21 secretarias estaduais em atividade no governo de seu
irmão.
Ora,
entre as pastas federais, cujo número ele considera excessivo, há uma, dedicada
exclusivamente à gestão dos portos navais, cujo titular é o ex-prefeito de
Sobral Leônidas Cristino, indicado, por sinal, pelo grupo do qual Ciro é o
mentor.
Logo,
se ali há um prostíbulo, funciona com a adesão societária do moralista de
ocasião. Se “putaria” é o que de melhor Ciro Gomes tem a dizer sobre um governo
que de fato apoia, o que honestamente diria da obra administrativa de sua
família?
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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