quinta-feira, 15 de agosto de 2013

MAIS CONSCIÊNCIA EM MAIS MÉDICOS



João Brainer Clares de Andrade (*)
Não há dúvidas de que o programa federal “Mais Médicos” é uma investida eleitoreira e que está longe de resolver a distribuição de médicos no Brasil. Os números saltam aos olhos quando menos de 30% das vagas tiveram inscritos na primeira chamada, o que denuncia o descrédito local e internacional.
Paradoxalmente, podemos enxergar ganhos com o programa e a forma desrespeitosa como o Governo vem lidando com os médicos brasileiros. Com a proposta de médicos estrangeiros, nossos esculápios locais reacenderam as discussões sobre a necessidade de ocupar os rincões brasileiros, reforçando um sentimento de dever cívico quiescente por anos. A proposta de expansão do curso médico em mais dois anos reanima o debate da estrutura da nossa formação: estamos bem formando médicos para Atenção Básica ou Emergência? O curso médico ainda cabe em seis anos? Além disso, a população aproveita o metralhar do Governo e puxa coro em críticas sobre a atuação dos médicos, sua relação com os serviços públicos e a relação médico-paciente, o que tem suscitado consciência na classe, e que, certamente, nos dará médicos brasileiros mais compromissados depois desse tempo. Agora, dar bom exemplo tem se tornado regra.
A exigência de prova de revalidação suscita outra consciência: estamos formando bem nossos profissionais? A mesma exigência que fazemos aos portadores de diploma estrangeiro é válida aos formados em solo nacional? As escolas médicas brasileiras reabriram discussões internas e já iniciam grupos de requalificação de seus currículos, focando em uma formação técnica, humana e generalista. Até os salários, que não aparecem no rol das demandas das entidades, acabaram arrecadando crédito: a bolsa oferecida no programa federal tem virado piso, já representando conquista considerável.
O principal, no entanto, é a consciência de dever social: a união dos médicos brasileiros reavaliou nossa inércia de décadas com a saúde pública. Por anos, fomos nos habituando às condições inóspitas, à falta de recursos, à falta de dignidade. Encontrávamos rota de escape na máquina privada e nos acostumávamos com a mazela pública. Pelo bem ou pelo mal, pela coerência ou não do programa federal, houve algum ganho. Não sabemos se teremos mais médicos de fato; o que sabemos é que, pelo menos, teremos agora mais consciência.
(*) Acadêmico de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Publicado In: O Povo, de 15/08/2013. Opiniãp. p.6.

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