Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Nunca me agradaram os cediços
(antigos) sinônimos de “academia”, como arcádia, silogeu, sodalício. Prefiro
associação, sociedade, congregação, corporação cultural, grêmio. Academias
lembram-me sempre o “Royal College of Surgeons of England”, em Londres. Ali residi
por dois anos, especializando-me em proctologia, nos anos 1970, e é onde
pretendo morar quando morrer.
Na Ilha de John Bull foi
fundado, no século XIV, o Grêmio de Cirurgiões, dentro da Cidade de Londres,
durante a conhecida disputa entre barbeiros e cirurgiões. Dos aludidos embates
vale recordar ter participado o famigerado rei Henrique VIII, fundador da
Igreja Anglicana, e polígamo uxoricida (assassino das esposas), aquele da Ana
Bolena e d’outras cinco “semsortes”.
No Brasil, cinco centúrias
após, idealizada pelo dr. Joaquim Cândido Soares de Meireles, nascia a
30/6/1829, a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, depois Academia Imperial,
e logo Academia Nacional de Medicina. Convém salientar ser essa instituição
médica dita nacional mais paulista (14 sócios), gaúcha (6) e mineira (2),
enquanto a região Norte/Nordeste, com 17 estados, é representada por três
médicos apenas.
Do Ceará ali são titulares os
drs. Ernane Aboim, Mario Correia Lima e Manassés Claudino. Como membro
honorário foi há pouco admitido o dr. Djacir Figueiredo. Há 35 anos (12/5/1978)
surgia, por inspiração do dr. Antonio Alfredo da Justa, a Academia Cearense de
Medicina. Esta foi concebida como braço da primeira faculdade estadual de
Medicina aqui (UFC), sendo pois uma agremiação singular, de índole esotérica,
para um grupo fechado de membros.
Contudo, as diretorias mais
recentes vêm despojando-a de cacoetes estatutários ainda vigentes. Todas estas
casas procuram preservar sua memória, assim resguardando-se da posteridade
esquecediça e desdenhosa, além de aprimorar a cultura e a ética profissionais,
promovendo a educação médica e a saúde. Nossa academia, à qual honra-me também
pertencer, tirante reuniões científicas e administrativas mensais, empreende, a
cada dois anos, encontros de maior vulto, as bienais.
Na penúltima discutiu-se a
bioética médica, e revisitou-se a antropologia, filosofia e sifilografia.
Sobremaneira mais relevante, de maior interesse social foi sua XV Bienal (9/10
de maio último) quando professores locais e visitantes abordaram amplamente a
qualidade dos remédios comercializados no Brasil, tema por nós enfocado neste
jornal a 22 daquele mês, Genéricos. Dessa reunião resultou a Carta de
Fortaleza, sobre os medicamentos brasileiros.
Louve-se por igual a tocante
homenagem ao estudante João
Nogueira Jucá, pelo seu heroísmo em agosto de 1959. Destarte
mostrou-se a ACM de inestimável utilidade pública, sendo já exotérica, agora
com x, aproximando-se do povo, cercania esta tão apregoada pelo papa Francisco.
Parabéns aos atuais dirigentes.
(*) Médico e secretário geral
da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 11/09/2013.
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