Por Márcia Alcântara Holanda (*)
Nos
dias 14 e 15 de dezembro, duas imagens postadas em jornais do mundo provocaram
em mim um frisson de emoções, que percorreu minha espinha e me arrepiou. A
primeira mostrou ao mundo o primeiro carregamento de vacinas contra a Covid-19,
saindo pelos corredores da farmacêutica, em Michigan-USA. (Folha,14/12/2020).
Era
a BioNThech Covid-19, vacina aprovada pelo FDA-EEUU e liberada para aplicação
na população. A segunda plasmava a aplicação da primeira dose da vacina na enfermeira,
Sandra Lindsey, em Queens-NY. (Folha,15/12/2020).
Pensei:
a humanidade é capaz de reagir, no seu melhor estilo, às tragédias que vez por
outra ameaçam dizimá-la. É uma reação mundial, em cadeia, que objetiva acima de
tudo a sobrevivência à Covid-19.
A
partir de agora, com vacinas sendo aplicadas em alguns países, vislumbra-se a
possibilidade do controle da Covid-19, no mundo. Elas são o meio mais eficaz e
seguro para se combater a doença. A força das vacinas é imensa. Maior do que a
dos medicamentos. Tem sido capaz de aumentar a longevidade, evitar mais de duas
dezenas de doenças controláveis. A BioNThech - Covid-19 protege contra a
infecção pelo Sars-Cov-2, com 95% de segurança e eficácia. Por isso, a
enfermeira Lindsey voluntariou-se a recebê-la.
O
Butantan já produz a Coronavac. Estamos, entretanto, perdidos numa
desorganização governamental descomunal sobre quais vacinas iremos ter e como
serão aplicadas. O Plano Nacional de Imunização do SUS, que tem dado a ótima
cobertura vacinal à população, ainda não apresentou sequer um cronograma
plausível, anti-COVID-19. Provavelmente o desejo de poder absoluto sobre tudo e
todos, do presidente Jair Bolsonaro, ou apenas a força do seu preconceito
contra raças e ciência, o levam irresponsavelmente a frasear no Programa Brasil
Urgente: "Eu não vou tomar vacina e ponto final. Problema meu" (Folha
16/12/2020).
Pode
não ser dele o problema, mas será de, pelo menos, 37% de brasileiros sob sua
traia, que também não se vacinarão, efetuando, assim, um crime contra a humanidade.
Como rebanho encabrestado eles seguem sem ver o que se passa num dos maiores
feitos da ciência: produção de uma vacina no meio a uma pandemia, no tempo
recorde de nove meses. Pode-se dizer que maior do que Jair, o "mito
fake", é a humanidade engajada, produzindo sua própria
sobrevivência.
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de
Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/12/2020. Opinião.
p.21.
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