segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A FRAGILIDADE DO MACHO HUMANO?

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

… O homem imagina que quanto mais dinheiro, quanto mais prestígio, mais macho ele parece perante a coletividade. E quando não consegue cumprir esse dever imposto pela cultura, sente-se infeliz, nervoso, vulnerável, perde a confiança e instala-se a insegurança geradora de tantos sofrimentos…

Para tentar explicar uma hipotética “fragilidade” imputada ao macho em crise sobram teorias da psicanálise que versam sobre o determinismo biológico. É como se, para além dos corpos de machos e fêmeas e dos seus hormônios, não existisse um espírito capaz de se educar e evoluir.

O homem imagina que quanto mais dinheiro, quanto mais prestígio, mais macho ele parece perante a coletividade. E quando não consegue cumprir esse dever imposto pela cultura, sente-se infeliz, nervoso, vulnerável, perde a confiança e instala-se a insegurança geradora de tantos sofrimentos. Do ponto de vista afetivo, não consegue se realizar e menos ainda se dedicar à mulher e à vida familiar, como gostaria. Continua acreditando ter sido escolhido por sua posição profissional, social, importância ou outros equivalentes. Calma. O amor e a emoção ainda existem. Vamos por partes.

Nos dias de hoje, quando o genoma começa a tomar a vez da antiga astrologia, o temor/fobia leva ao desespero o macho humano.

Deve-se recordar que o homem (sexo masculino) tem cromossomos XY e as mulheres XX e a estrutura do Y apresenta-se mais frágil em relação ao cromossomo X da mulher. Nelas, quando um dos X apresenta algum defeito o outro (sobressalente) pode tomar sua função. Ainda por cima, há três milhões de anos o cromossomo Y tinha cerca de 1.400 genes, agora tem menos de 100 e a tendência é diminuir. Essa fragilidade pode levar à extinção do macho em futuro longínquo, bradam os alarmistas.

Como tudo agora chega com impacto midiático, não se alegrem os machos heterossexuais pela possível redução da concorrência, o que poderia indicar um aumento do número de mulheres disponíveis. Por enquanto nada vai mudar. Essas mudanças são muito lentas e as notícias, especulativas.

Nós homens ainda temos muita paciência e sustentamos a evolução humana com nosso trabalho, organização e inteligência. Aí o machismo é como qualquer “ismo”, desgraça na certa… Desamor é sinônimo de morte.

Comentando sobre o papel do desaparecimento do cromossomo Y o professor Mark Pagel, biólogo evolucionista da Universidade de Reading (Grã-Bretanha), autor de ‘Wired for Culture: Origens of the Mind’, diz que embora possa haver alguma disputa (muito comum) no meio acadêmico sobre descobertas, haverá um futuro para os homens heterossexuais.

Embora não seja consolo saber que certos ratos australianos perderam o Y e ainda conseguem procriar.

Pesquisas anteriores já haviam sugerido: o cromossomo sexual Y, que só os homens carregam, possui agora cerca de 78 genes, em comparação com cerca de 800 no cromossomo X. Não se assustem, ambos estão suficientemente dotados para a perpetuação da espécie. Desde quando número passou a ser sinônimo de sexo forte ou frágil! O que vale é a qualidade.

De uma coisa tenho certeza: É preciso acabar com esse receio de tornar-se um macho fraco.

(Mulheres, deem uma injeção de ânimo nos seus companheiros, vocês que sofreram tantas discriminações. Para se multiplicar, o Mundo necessita de mulheres e homens. E isto é tão bom! Tomara que continue assim.)

E não me venham com um comentário do tipo: O que as mulheres não fazem para provar que são superiores? Nós homens ainda temos muita paciência e sustentamos a evolução humana com nosso trabalho, organização e inteligência. Aí o machismo é como qualquer “ismo”, desgraça na certa…

Desamor é sinônimo de morte. Somente pelo amor é que voltamos a ter segurança.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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