sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Crônica: “Um peidim véi de nada!” ... e outros causos

"Um peidim véi de nada!"

Papai Zé ("môco das ôiça") e mamãe Terezinha (com "dificulidade" de paciência) assistindo à missa pela televisão no domingo. Padre à certa hora fala dos presentes (ouro, incenso e mirra) levados ao menino Jesus por Belchior, Baltasar e Gaspar.

- São os seis "Reis magros".

- Isso tudo, Zé? Não eram três?

Quem disse que papai perde a pose de sabichão?

- Por conta da agenda, não compareceram Ednardo, Fagner e Petrúcio!

Mudanças substanciais

Tio Manezim da Barra do Ceará tem bom falar, pelo menos para o próprio uso. Defende que se a paciência é a característica da pessoa paciente, e a existência é o estado de quem está vivo (existente), então...

- "Crência" é a ação de crer do crente e "presência", o fato de a pessoa estar presente.

PS: Em matéria de preparo de alimentos ao fogo (cozimento, cozedura), tem ponto de vista formado e não abre nem prum trem carregado de panelada fria:

- Cozido é só aferventado, e cozinhado é o cozido em sete águas.

Bené, o viúvo

Ficou com ele a responsabilidade de criar os quatro filhos que teve com Joaninha. Não bastasse a ausência da mulher, eram brigados com Bené por terem nascido feios. De mal com o pai havia 10 anos. Não suportando o ar querelante dentro de casa, reuniu os meninos para o que julgou fosse a solução do impasse.

- Vocês terão de passar por um recall.

- Ricól? Diabeisso? - perguntaram em uníssono.

- "Solicitação de devolução de um lote ou de uma linha inteira de produtos feita pelo próprio fabricante, quando descobertos problemas de segurança do produto".

- Sererá??? - reperguntaram duma chibatada.

- Antônio nasceu com um calombo no abano da urêa. Tico veio sem ridimunho na cabeça. Manel teu dois imbigo. E Zé Paulo, quedê nascer cabelo nas parte?

- E aí, seu Bené???

- E aí que a mãe de vocês deve de tá só ouvindo a conversa...

A amável cartinha do Professor Jari

"Prezado jornalista, a coisa não tá boa pra pobre. Vieram me vender um plano funerário e perguntaram se eu preferia com ou sem formigueiro. Não adquiri porque minha mulher é mais segura que catarro de menino de 12 anos. Sem contar que no cartão do vendedor tinha uma frase atribuída a Malaquias, que duvido muito seja dele: 'A vida é como papel higiênico, uma hora vai acabar nos dedos!'

Ao demais, fico com Suassuna: 'O homem é um coqueiro, botando seus cocos'".

Quando é pra morrer, num tem jeito

Zé Galope levou quatro tiros aos 20 anos e escapou; por volta dos 35, mais três balaços e continuou na carne. Acidentes automobilístico foram 12, saindo todo lascado, mas com vida. Ainda teve queda de avião, telhado na cabeça, facadas (19), coice de jumenta no saco (22), raio na croa da cabeça (120) e 78 surras da polícia, com semanas na UTI. Até que no domingo passado conseguiu morreu.

Engasgado com um caroço de manga coité.

Fonte: O POVO, de 21/02/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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