terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A MÃO OU O PÉ?

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Os argentinos se aglomeraram na frente da Casa Rosada em plena pandemia, mas, para eles, o que importava era a despedida do ídolo.

"Maradona, além de ter sido um dos maiores craques da história do futebol mundial, é um símbolo da tragédia humana, de um tango argentino, por ter sido, ao mesmo tempo, genial, contraditório, divino e humano, sem nunca esconder suas fraquezas. Essa é uma das razões dos argentinos adorarem tanto seu ídolo.", assim escreveu Tostão, bom de bola e de pena, em sua coluna na Folha de S. Paulo.

São justas as homenagens às proezas do craque, inclusive pela autoria do mais bonito gol de todas as Copas, mas, com muito respeito ao seu talento, não apoio a exaltação feita ao seu mais feio gol, aquele com o uso da mão. E, assim, não concordo com coroas e flores que foram colocadas no exato lugar do gol feio, no gramado do Estádio Azteca, no México. E ainda foi exaltado o seu dito de que a autoria seria da mão de Deus. Nenhum problema haveria se a "contribuição divina" tivesse ocorrido em um jogo de vôlei ou basquete. Mas era futebol!

Após algumas das magistrais jogadas de Maradona, seria justo dizer que havia sido o pé, o esquerdo mágico, e não a mão de Deus, pois esta poderia atuar para Michael Jordan ou Fernanda Venturini, nunca para o fenomenal Dieguito. Afinal, como disse o jornalista Octavio Guedes, "o que são certos lances de Maradona, senão cínicos e deslavados milagres?"

Em 2004, um global afirmou, em rede nacional, que uma grande alegria dos brasileiros era ver o Brasil vencer a Argentina no futebol, e se possível com um gol de mão. Sobre o infeliz comentário, este articulista foi autor de um texto no jornal O POVO, intitulado "Gol de Ética", em que afirmava: "Nós, educadores, orientamos jovens ainda em formação, ensinando-lhes a competir, considerando ser mais importante que ganhar o vencedor ter consciência de que a vitória só existe quando honesta, e que saber perder é tão importante quanto ganhar."

A preocupação era legítima na época e continua a ser após 16 anos, pois o caráter do ser humano é moldado pelos exemplos dados à criança. 

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 3/12/20. p.18.

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