Muito cuia, muito paia, muito peba!
Papai,
já há alguns outonos, perdeu a vista boa que um dia lhe fez craque em encontrar
ovo de mutuca no escuro, em meio ao capinzal queimando. Graças a Deus, saúde
ainda tem, e é muita. Aos 92 anos, vai e volta faceiro à fazenda, tem já seis
décadas, ele mesmo no guidão da Rural moderna - um Ecosport.
O
episódio da ora é o seguinte. Vindo de Pacajus semana passada, ali pela altura
da Coluna, carro em movimento, botou os olhos cansados em um anúncio escrito na
parede duma borracharia que deixou meu velho invocado,
"encasquerado", com "a vó detrás do toco". Viu ali sinais
dos tempos.
Já
em casa, descarregando o carro - saco de farinha pra cá, quatro quilos de
panelada pra lá, um jerimum de leite no meio, segurou firme o braço de mamãe e
falou até certo ponto conformado:
- Dona menina, o mundo tá se acabando!
Dona
Terezinha, que se o mundo for mesmo acabar ela pouco tá ligando, percebeu o ar
severo do seu Zé Duarte e verberou com o bom-humor sincero de sempre:
- O mundo vai se
acabar em água, em fogo ou em chifre?
- Não, minha mulher...
- Em merda, em liseira ou em fofoca?
- Fresque não!
- Será então por
causa do corno desse vírus "coronário"?
- Hômi, deixe de
conversa mole!
- Pois desembuche!
Tô num pé e noutro pra comer a buchada que Arlene (secretária) preparou!
- Você me acredite que eu vi num muro a propaganda
dum produto que... Sei não!
- Qual, Zé? - perguntou mãe,
cansada do papo qualquer coisa.
- Penico de dirigir. Já tem penico de dirigir pra
vender, dona menina!
Dona
Terezinha caiu na gargalhada. E explicou, ela que já vira o anúncio certo dia.
- Pânico de
dirigir, Zé! Pânico de dirigir!
Papai e a moça
bonita
Esse
meu pai, o velho e bom Zé Duarte, recebeu no sábado a visita da mais
encantadora beldade de São Gerardo - Marivalda de Seu Antonho de Zé Pinto
Galego. Ela, bastante gripada ("sabe lá não é o Covid-19!"), vai logo
pedindo desculpas por não poder dar-lhe aquele abraço apertado de sempre.
Gentil e carinhoso, seu Zé soltou pérola bem ao estilo:
- Marivalda, pegar um coronavírus de você será uma
honra!!!
Prevenção do
caronavírus em cearensês
Entre
as lições de combate ao coronavírus, o item 3 das dicas do Ministério da Saúde
chamou a atenção do amigo Edmilson Filho:
- Sem beijo, sem abraço e sem aperto de mão!
Como
é que a gente diria, em linguagem cearense, esse verdadeiro sacrifício da
criatura que ama abraçar, beijar e se esfregar no outro? Desse modelim:
- Nada de
desentupidor de pia, abufelação estilo amassamento de bombril e friage de
frescar com as mão alêia!!!
Acrescentando-se
indicativo que considero vital:
- Diga assim:
"fala, fulerage!", mas a duas léguas e meia da outra pessoa. Evite
passar a sua macacoa pro outro!
Fonte: O POVO, de 20/03/2020.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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