quarta-feira, 4 de maio de 2022

NOVOS TEMPOS

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

O cearense Fernando de Mendonça recebeu do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) a rara e mais elevada honraria "Suma Cum Laude" (com a maior das honras, em latim). No ITA, conquistam-na apenas os graduados com média aritmética superior ou igual a 9,5 (na escala de 0 a 10) em todas as notas-de-período nos três anos do Curso Profissional.

Vigoroso aos 97 anos e com um currículo invejável, ainda hoje reside em um perfeito castelo medieval por ele idealizado, vizinho a um outro menor, da filha, em São José dos Campos. Assisti, com nossos alunos, a uma palestra de Mendonça e lhe perguntei qual o segredo de sua vitalidade apesar de ele estar com quase 90 à época. A receita foi: "Meus amigos só falam do passado e estão morrendo. Eu prefiro falar do futuro."

Concordo com Mendonça, mas, a pedir-lhe vênia, viajei no YouTube e cheguei ao Festival de Música da TV Record em 1967. Por lá, brilharam as canções "Ponteio", de Edu Lobo e Capinam, que, com a "ajudinha" de Marília Medalha, obteve o 1º lugar, "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, em 2º, "Roda Viva", de Chico Buarque, em 3º, "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, em 4º lugar, e outras, com a genialidade em maioria.

De lamentável só a reação de Sérgio Ricardo, que, após vaiado, atirou seu violão no público. Ato contínuo, o cantor e sua música foram eliminados. A meu juízo, em eventos como o Festival e o Oscar, agressões, verbais ou físicas, são inadmissíveis.

Um sucesso atual chama-se "Cachorrinho", cuja letra diz coisas como: "Dois copos, dois pratos e duas cadeiras / Tinha planejado a semana inteira / Anel de noivado em cima da mesa / A doida estragou a surpresa / Eu fiquei sozinho / Num jantar à luz de vela / E dei pro meu cachorrinho / A comida que era dela." Essa e a maioria das músicas de hoje jamais estariam entre as finalistas do show da Record.

O apogeu do evento musical foi quando, após o resultado, vencedores e perdedores vieram todos ao palco, cantaram e comemoraram como se só existissem ganhadores. Voltaremos a ter cenas assim e não como as atuais agressões em redes sociais? Sim, teremos. Depende de nós.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/04/22. Opinião, p.22.

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