É melhor prevenir que tomar remédio
E
a comprovação enfim chegou: quando "desce pro direito", babau! O
sujeito fica outro, entre prejudicado e mais sabido. Invocado, né? Parece
contraditório.
A
descoberta não está nas páginas da Lancet, da Science, da Super Interessante ou
da Galileu, mas na informação que nos foi repassada por Mundico Pau de Virar
Tripa, tornando público o que a negada do bairro já desconfiava e que justo é:
a papeira, reiteramos, ao descer pro direito, desconfigura a pituitária, bule
"dicunfôça" na pineal. E finda por mexer com o conjunto de valores do
"criaturo". Senão vejamos as marmotices operadas em Tonho Sacristão,
acometido disso.
Quem
vem de longe, já repara na placa grande fixada na testa da casa dele que alguma
coisa está fora da ordem: "Vou até pra casa do Chico, mas nesse canto eu
não fico". Por que isso, se ele sempre morreu de amores pela localidade
onde nasceu e se criou - Alagadiço? Mundico explica:
-
Nem as duas covids, nem o tiro de espingarda, nem o sangue fino dele... Tonho
tá assim porque a papeira desceu tinindo pro seu direito!
-
Sequelado, coitado!
-
Tu nem imagina! Lembra que ele torcia pelo Ceará?
-
Sim, era doente pelo vozão!
-
Agora é colecionador de palito de picolé.
-
Inacreditável futebol clube!
-
Com uma manga coité na mão, engole o caroço, rebola a carne doce no mato e dá
três pulos pra trás.
-
Aí quebra dentro!
-
E tem chamado a mulher Onorina de seu Venâncio de Lurdinha Papo de Anjo...
E não fica só nisso!
De
olhar abutecado, o pacífico Tonho d'outrora é também, agora, um sujeito
arrochado, como se houvesse baixado nele o espírito de Gengis Khan: por causa
dum gato pé duro, comprou briga com a arquidiocese, carecendo da intervenção do
papa Francisco para o reencontro geral de todos com a paz. E só fala se estiver
com a boca cheia - de paçoca, farinha escoteira, mucunzá e/ou cabilouro. Cismou
de botar placas (que nem as de moto) em tudo que é bicho que se mexa: carrinho
de mão, jumento, cachorro, preá, biciguete, urubu...
Mas
teve duas coisas boas aí. Primeira: virou poeta! Melhor, um defensor
intransigente da natureza pela via da palavra que lhe fui fácil, desde que
desceu-lhe ao direito a tal da papeira:
"Vamos
defender a vida
Acabar
de vez com o mal
Para
que matar a cobra?
Se
eu posso mostrar o pau…"
Segunda:
a doença fez Tonho Sacristão se interessar pela minha Enciclopédia da Fala
Cearense, enviando-me algumas expressões para enriquecer o conteúdo da letra D:
Derrotar
o nome de alguém - Caluniar, falar mal da pessoa acolá.
Derrubá
três cai duro - Comer três sanduíches populares.
Dinheiro
é assustado com gente besta - Dinheiro na mão de quem não tem categoria vai-se
embora ligeiro.
Dinheiro
pouco eu tenho muito - Pouca grana, em cédulas ou moedas de pequeno valor, eu
tenho às rumas.
Disimpravido
- Acometido de empachamento, de indigestão.
P.S. Bora fazer o seguinte: se não fosse OP,
o que seria de nós, o público leitor?
Parabéns ao O POVO MAIS
Por dois anos labutando
Plataforma de O POVO
Sempre revolucionando
É jornalismo, é cultura
É pra dizer a toda altura
Continue brilhando!
Fonte: O POVO, de 13/05/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário