Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… Saber dizer não, ou sim, depende
apenas da segurança que temos em nós, da nossa autoestima. O não é palavra das
mais ouvidas quando criança. Não pode, não deve, não bula, não pode comer
sobremesa antes do jantar, não coma doce, não …
Uma das coisas mais tolas que
se pode dizer para outra pessoa é “você deve mudar”, deixar de ser
otário ou aprender a dizer não. Considero uma das maiores bobagens o
emprego de frases/conselhos que, de tão repetidos, viraram lugares-comuns de
coisa nenhuma. Saber dizer não, ou sim, depende apenas da segurança que temos em nós,
da nossa autoestima.
O não é palavra das mais
ouvidas quando criança. Não pode, não deve, não bula, não pode comer sobremesa
antes do jantar, não coma doce, não faça barulho, não se meta em conversa de
adulto, não fale antes de ser perguntado, por aí vai. De tanto ouvir não,
ficamos com medo de pronunciá-lo.
Dizer sim é mais simples e menos
perigoso.
Pronunciar ou dizer ‘não’ fica
plantado no inconsciente como coisa ruim, proibido de falar. Essas
lembranças e outras tantas, se não forem decodificadas, passam a ser um
dos espectros existenciais. Aprender a se colocar em primeiro lugar
não é egoísmo, nem orgulho. É ter “Amor Próprio”, afirmava Charles
Chaplin. Ao que acrescento: “É egoísmo fazer os outros sofrerem, mais é
melhor que fazermos sofrer a nós mesmos”. Embora (sabendo) que essa conduta não
seja correta e que não leva a lugar nenhum, continuamos a persistir no mesmo
engano de pronunciar SIM, quando deveríamos dizer NÃO. Na maioria das vezes,
quem nos solicita algo é um aproveitador.
Três fatores fazem a maioria
das pessoas dizer SIM, quando, na verdade, anseiam dizer NÃO.
São eles:
Medo: de ofender, magoar,
decepcionar, sofrer represálias ou reação agressiva, seja física ou moral, de
quem nos demanda algo que, por formação, não estamos dispostos a ceder.
Culpa: receio de causar
sofrimento ao outro, de magoar, provocar tristeza, frustrar alguém. Ser
causador de algum sofrimento.
Vaidade: ameaça ao seu nível
social, por deixar de ser considerada uma pessoa boa e passar por egoísta.
Aqueles que não superaram o
medo, a culpa ou a presunção e não dizem NÃO, quando têm certeza de que deveriam fazê-lo, devem
procurar auxílio psicoterápico e esquecer os conselhos recebidos através de
lugares-comuns.
Quem não sabe dizer NÃO corre o risco de ficar enrubescido
pelo resto da VIDA.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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