Por Henrique Soárez (*)
Em
um ano eleitoral recente, o Inep retardou em 20 dias a divulgação dos
resultados do Ideb. A presidente era Dilma Rousseff e o ano
2014. A justificativa oferecida foram os pedidos de recursos de estados e
municípios, mas ficou a suspeita de que o real objetivo do atraso era evitar
comprometer os aliados nas eleições.
Agora
o MEC parece ter decidido, em acordo silente com estados e municípios, não
divulgar os resultados do Ideb de 2021. A aplicação do exame foi
sofrível e os dados estarão afetados pelo tempo de escolas fechadas.
"Defendemos que o resultado não seja considerado para natureza política,
pedagógica ou financeira porque ele não retrata um período de
normalidade", diz Vitor de Angelo, presidente do Conselho Nacional dos
Secretários de Educação, o Consed.
Como
um glutão que evita a balança após as festas de ano novo, o Brasil
prefere fazer Educação sem olhar os dados. Ao invés de usar a
variação na série histórica, que vem desde 2007, para aferir os impactos da
pandemia e em seguida traçar novos planos de recuperação, nossos governantes
preferem engavetar as informações.
O
Enem também foi atingido pela síndrome de avestruz. Os microdados de 2020 foram
divulgados com a supressão de 60 importantes variáveis. No caso do obscurantismo do
Enem, a alegação para não publicar dados existentes é a Lei Geral de Proteção
de Dados. Trata-se de uma desculpa descabida, pois a identificação da escola
não implica na individualização do candidato.
Neste
momento é impossível diferenciar o desempenho de escolas durante a pandemia.
Sabemos que o esforço e o tempo de resposta foi heterogêneo, mas os resultados
em termos de aprendizado estão ocultos porque o MEC decidiu agregar por
município os dados do Enem.
Os
governos estaduais poderiam protestar. Poderiam também divulgar suas próprias
avaliações (o último Spaece publicado no Ceará foi o de 2019,
em agosto de 2020). São Paulo foi corajoso e responsável ao aplicar e divulgar
os resultados do seu Saresp 2021. Infelizmente o silêncio da
maioria dos estados e do governo federal leva a crer que o objetivo é mesmo
esquecer o passado.
(*)
Engenheiro eletricista, diretor do Colégio
7 de Setembro e da Uni7
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/04/22. Opinião, p.22.
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