Por Alessander Sales (*)
Há
dois anos a pandemia de Covid-19 atingiu o Brasil impondo
decisões urgentes de enfrentamento. Sem coordenação nacional, a
responsabilidade recaiu sobre as estruturas executivas estaduais que diante do
desconhecido definiram, unilateralmente, restrições comportamentais para
diluir, no tempo, as crescentes curvas de contágios e mortes. O
Ceará, no entanto, inovou.
Com
os graves impactos gerados na vida de todos o centro decisório expandiu-se para
integrar diferentes visões sobre a crise. Decidiu-se, pela complexidade das
demandas, iniciais incertezas científicas e desagregadora polaridade
ideológica dos debates, promover a interação direta de conjuntos
representativos de importantes setores da sociedade objetivando induzir
colaboração, diminuir conflitos e obter decisões mais eficientes.
Criou-se,
assim, um Comitê Estadual consultivo para trazer ao debate público as visões
dos diversos segmentos representados. Concomitantemente, um Grupo
Técnico passou a monitorar os índices de evolução da pandemia em todo
o estado. A cada semana, o Grupo de Enfrentamento a Covid debate esse conjunto
de informações e, após consenso entre seus integrantes e observadores, propõe
as medidas de gestão a serem concretizadas.
Como
toda inovação, esse modelo gerencial também tem seus acertos e erros. Mas,
integrando-o como um dos representantes do Ministério Público, não
tenho dúvidas de que seu funcionamento diminuiu conflitos e induziu efetiva cooperação
interinstitucional o que, não por acaso, reflete-se na queda do Ceará nas
posições do ranking que mede, para todos os estados, a gravidade da pandemia.
Hoje,
enquanto diminuímos algumas restrições, lembremos que a crucial decisão inicial
de buscar construir consensos ante significativa diversidade de opiniões é uma
evolução a ser incorporada como instrumento permanente de gestão pública
cientificamente responsável e transparente e que disseminar
essa postura dialógica coletiva é imprescindível para a boa gestão desta e de
futuras crises.
(*)
Procurador Geral da República. Professor da Unifor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/03/22. Opinião, p.16.
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