Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
Aproveitei
o final de março de 2023 para reler e analisar a conhecida obra de Alvin
Toffler, autor e conferencista consagrado, responsável por livros importantes
como “Choque do Futuro”, “A Terceira Onda” e
“Previsões e Premissas”. O conhecimento do pensamento de
Toffler é importante para aquelas pessoas que desejam entender os processos
histórico, econômico, social e político. De acordo com a sua linha de
raciocínio, a primeira onda de mudança na sociedade ocorreu há 10 mil anos com
a revolução agrícola; posteriormente, há pouco mais de 300 anos, ocorria a
revolução industrial, motivando conflitos sociais e políticos, o que causaram a
segunda onda de mudança e agora estamos vivendo uma nova e complicada
transição, levando-se em conta os aspectos contemporâneos da tecnologia, do
conhecimento, das fontes energéticas, do narcotráfico, de corrupção, da
ausência de paz, da violência, do crescente desajuste familiar, da falta de
solidariedade, das desigualdades, enfim de fatores que nos conduzem a uma outra
ruptura. Estas ideias vêm provocando controvérsias. Toffler não se apoia em
bases ideológicas, citando contudo, a falência do capitalismo e o fracasso do
comunismo. Todavia, defende transformações econômicas e sociais de largo
alcance. Ademais, ressalta que os conceitos de política esquerda/direita estão
superados, principalmente em razão do rápido desenvolvimento tecnológico. Por
sua vez, Alvin Toffler ressalta com ênfase: “O futuro do mundo permanece ligado
ao progresso da democracia”. Diante das ideias “Tofflianas”,
podemos deduzir questionamentos extremamente preocupantes, dentre os quais
merecem destaque: a) a diferença de rendas entre as regiões mais pobres (África
tropical, Ásia do Sul, países andinos, Nordeste brasileiro etc) e as ricas da
OCDE não para de aumentar, o que torna o mundo inaceitável; b) o endividamento
de todos os países pobres; c) a educação é uma política primordial, sem a qual
não há democracia. Sem dúvida, quem não recebeu um mínimo de instrução, não é
uma pessoa livre; e d) para nós brasileiros, cerca de 50% dos 220 milhões de
habitantes do Brasil estão fora da sociedade moderna e um terço de nossa
população tem uma renda abaixo de um Salário Mínimo. O desenvolvimento
integrado e sustentável do Brasil, como de qualquer outro país, somente
ocorrerá na medida em que haja uma participação intensa e responsável dos
diversos segmentos da sociedade. Por fim, vivemos num mundo cheio de
incertezas, injustiças e conflitos inadmissíveis, em razão, creio eu, da
supervalorização dos valores materiais e do reduzido nível de sentimento
espiritual. Precisamos eliminar o ódio e a vingança, pois nada constroem.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC.
Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, 31/03/2023. Ideias.
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