terça-feira, 25 de abril de 2023

CÂNCER DE INTESTINO MATA, ÍDOLOS MORREM

Por Sérgio Pessoa (*)

Estádio Azteca, 1970: O Rei Pelé pula mais alto que o italiano Giacinto Fachetti, para no espaço, de olhos fixos e abertos, desfere uma mortal cabeçada no canto do goleiro Albertosi e sai dando socos no ar comemorando o primeiro gol na lendária final da copa do tri, no México.

Maracanã, 1976: Roberto Dinamite recebe um cruzamento na marca do pênalti, aplica um lençol no zagueiro botafoguense Osmar e fuzila, de voleio, o goleiro Wendell aos 45 minutos do segundo tempo.

Lances imortalizados nas telas da TV, do cinema e agora no YouTube nos dão a impressão de que os dois craques não morrerão jamais. No nosso imaginário, certamente, mas, infelizmente, a realidade mundana é outra. Pelé e Dinamite tiveram sua passagem terrena abreviada pelo câncer de intestino, uma doença comum e absolutamente passível de prevenção e cura, se precocemente diagnosticada.

O câncer colorretal (CCR), popularmente conhecido como câncer de intestino, é o segundo tumor maligno mais frequente entre mulheres e homens no Brasil. É uma lesão que pode ser prevenida e diagnosticada em fases precoces, o que permite altas taxas de cura, se utilizarmos ferramentas como pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopias periódicas a partir dos 50 anos.

A Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e as Sociedades Brasileiras de Endoscopia Digestiva (SOBED) e de Coloproctologia (SBCP) promovem, em todo o Brasil, a campanha Março Azul. O objetivo é esclarecer a população e cobrar do poder público estratégias que reduzam o risco da doença e permitam o diagnóstico antes da instalação do câncer ou em suas fases iniciais.

A campanha busca popularizar a ideia de que a partir dos 50 anos na população geral, e mais cedo em grupos especiais, como parentes em primeiro grau de portadores de CCR ou indivíduos portadores de doença inflamatória intestinal, a realização de exames laboratoriais e colonoscopias devem fazer parte do cuidado individual de cada um de nós. Lamentavelmente, as doenças de Pelé e de Roberto Dinamite já foram identificadas em fase muito avançada, o que reduziu em muito a chance de cura.

Marque um gol de placa. Lembre-se do Março Azul e previna-se!

(*) Médico gastroenterologista. Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/03/2023. Opinião. p.20.

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