Em 1993, fui convidado pelo Conselheiro Menezes
a escrever o prefácio do seu livro “Discursos imperfeitos e escritos precários
ou escritos imperfeitos”. Como era a primeira vez que me desincumbia de tarefa
dessa natureza, entreguei uma cópia do texto produzido ao Dr. Haroldo Juaçaba,
para que ele, como bom leitor, opinasse.
No dia seguinte, ele me chamou em seu gabinete no
Departamento de Cirurgia da UFC, para dizer o que pensava daquele texto de
minha lavra:
– Gostei muito, Marcelo! Está bem escrito;
porém, achei um pouco esquisito.
– O que, por exemplo, professor?
– Você só tratou do autor da obra, e ainda
falou mal do autor, o tempo todo.
– Foi exatamente como ele pediu, Dr. Haroldo. Ele gostaria de se sentir
como um general romano sendo apupado pela turba, para ser lembrado de que os
heróis estão a serviço de Roma, cujo poder na República estava concentrado no
Senado.
– Entendi –
acatou o nobre cirurgião. Mas por que você
não descreveu uma linha sequer sobre a obra?
– Ele não me deu o livro para ler,
professor. E ainda mais que a condição imposta para eu prefaciar sua obra era a
de escrever sem ler o teor da mesma.
*
Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e
de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.36-37.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. O prefácio do livro do
conselheiro. In: SOBRAMES – CEARÁ. A plenos pulmões. Fortaleza:
Sobrames-CE/Expressão, 2021. 340p. p. 233.
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