segunda-feira, 19 de junho de 2023

A QUESTÃO POLÍTICA

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

A conceituação de desenvolvimento econômico pressupõe o aprimoramento do processo político, em que se incluem os conceitos de justiça e liberdade. As relações entre variáveis políticas e socioeconômicas, envolvendo intrinsecamente o Estado, afetam de forma cada vez mais decisiva a Nação. Nesse aspecto, aliás, verifica-se uma verdadeira simbiose, pela qual as variáveis políticas influenciam e são influenciadas pelas variáveis socioeconômicas. Tradicionalmente, mencionado problema tem sido enfocado por determinados analistas sob dois ângulos: de um lado, a abordagem sociopolítica, que procura penetrar na raiz da questão. De outro lado, a análise socioeconômica, detendo-se na descrição das características do atraso nacional, nas suas inter-relações e nas propostas de política econômica. Assim, parece-nos claro que os problemas inerentes ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, além de conotações de natureza cultural, estão relacionados a pontos como: desigualdades entre as áreas urbana e rural; disparidades inter e intra regionais; bem como distribuição perversa de renda, em termos pessoal e setorial. A estes desequilíbrios distributivos estruturais, conjugam-se problemas conjunturais, dentre outros: dívida financeira, taxas de inflação, níveis de desemprego, reduzidos índices educacionais, como também péssimas condições de saúde e saneamento básico. A problemática nacional não é de fácil solução e também não será resolvida com demagogia. As expectativas dos agentes econômicos e políticos muitas vezes se conflitam e, para tornar a situação mais complexa, existem fatores que fogem ao domínio das autoridades constituídas. Com a permanência deste quadro, ocorre a insatisfação da população, provocando tensões sociais e, naturalmente, desestimulando a colaboração no esforço nacional de retomada do desenvolvimento, de que o Brasil tanto necessita. Em outras palavras, existe uma relação direta entre o fator psicossocial e a produtividade geral da economia. Faz-se necessária uma maior identidade entre Nação e Estado ou entre os vários segmentos da sociedade e o Governo, com isso proporcionando bases mais sólidas para o desejado entendimento nacional. Entendemos que a viabilização do mencionado objetivo, entretanto, somente acontecerá na medida em que prevaleçam o espírito público, a independência e a harmonia dos poderes constituídos e a valorização das representações políticas, consolidando um verdadeiro Estado democrático com justiça social e investimentos públicos e privados.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, 12/05/2023. Ideias.

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