quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ao vencedor, as batatas quentes



Por Ricardo Alcântara (*)
Ao longo da vida, li pouco sobre o assunto – Darcy Ribeiro, Paulo Freire e quase nada mais. Esse quase nada que não sei sobre Educação, aprendi como estudante. Mas deu para descobrir o que Educação não é. No mais, tenho lido os jornais.
Conhecer é um ato de envolvimento: se obtém conhecimento quando a informação ou experiência desperta interesse. O irrelevante não fixa. Logo, há de se conduzir o aprendiz a Pensar como um exercício realizador – prazeroso mesmo. O velho tesão.
Sem motivação, não há aprendizagem. Claro, um professor motivado não é o bastante, mas é indispensável. O que impede que algo aparentemente tão simples se realize são, todos sabem, fatores que precedem o momento em sala de aula.
Não bastaria, como o fez o governador certa vez, cobrar dos mestres amor pelo que fazem: amor é a mais inútil de todas as cobranças e os homens públicos deste país não se encontram em adequadas condições morais de fazê-la aos seus cidadãos.
Como exigir dedicação ao cumprimento de metas sem qualificá-los e remunerá-los na proporção do seu desempenho? Façam desta uma profissão valorizada e cidadãos habilitados se dedicarão a ela. É o suficiente? Não: é o indispensável.
Não é preciso ser especialista para constatar: nações que, em tempos recentes, obtiveram saltos de qualidade no curso de uma geração adotaram medidas que atendem a esta equação determinante: bons professores, boa educação.
Só assim será possível superar compensações adquiridas na franja ressentida dos interesses corporativos (ora, se você não ganha o que merece, mude de emprego. Se decidiu ficar, lute pelos seus direitos, mas cumpra pelo menos a carga horária).
Essa revolução custa muito dinheiro. Mas bem menos do que temos investido na perpetuação da nossa ignorância. Ouvi falar de um novo país. Até aqui, parolagem. Façam o que foi feito onde deu certo – da Educação, a prioridade – e acreditarei.
Aqui em Fortaleza se deveria receber como boa, a notícia de que Ivo Gomes vai pegar no giz, porque tem peso político suficiente para, se quiser, exigir (o termo é este mesmo) do prefeito Roberto Cláudio as boas premissas que o desafio requer.
Há receio de que o afamado destempero dificulte seu trabalho. Fracassará, caso não compreenda que o aguarda papel de liderança porque, diante do necessário, o que tem a oferecer é muito pouco. Disseminar boa vontade é uma tarefa paciente.
Que seja ele mesmo um homem de boa formação não garante que o prefeito esteja disposto a concentrar recursos e dobrar resistência por bons resultados no setor. Fernando Henrique também era um “polido” e deixou a universidade daquele jeito.
Mas ao colocar na condução da pasta um nome com exposição política, Roberto Cláudio riscou o chão com navalha: passa a ser mais decisivo para a avaliação do seu governo o e o destino de sua imagem tudo que possa acontecer por lá.
Até onde a escolha o entusiasma ou incomoda, é de foro íntimo, mas o prefeito não está alheio aos riscos de indicar um quase indemissível colaborador. Mas é assim mesmo que a coisa funciona: ao vencedor, as batatas. Inclusive as quentes.

(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

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