Por Carlos
Chagas
José Dirceu,
em recente artigo, acusa a imprensa e as oposições de pretenderem desconstruir
o PT. Com todo o respeito às agruras do ex-ministro e deixando que PSDB e
penduricalhos respondam por eles, vale registrar a injustiça praticada contra a
mídia. Não somos nós que erodimos o PT: é o partido que se desconstroi.
Quando
fundado, vinte e três anos atrás, o PT entusiasmou meio mundo. Seria uma
legenda diferente, despojada dos vícios que caracterizavam o quadro
partidário, empenhada na construção de um país novo.
Não apenas
os trabalhadores e os jovens aderiram. Houve grande adesão à
proposta nos planos filosófico e ideológico. A chamada intelectualidade
aplaudiu a promessa de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais
igualitária. Relevou-se, até, certo desconforto diante do sectarismo de alguns
dos fundadores.
O diabo é
que o radicalismo foi crescendo até a imposição de um
comportamento automático a todos os companheiros. Diretrizes viraram
ucasses. Começaram as expulsões e as defecções.
Estas, até, em maior número. O que era para ser um fórum de debates
virou um batalhão em ordem unida. Qualquer passo errado significava
desligamento. A Igreja pediu para sair, cientistas, escritores e profissionais
liberais escafederam-se, em grande parte. Parlamentares, também. Em nome da
pureza dogmática sufocaram as divergências e as discussões.
Adiantou
muito pouco o PT fatiar-se em grupos variados. Todos são obrigados a reger a
mesma partitura, deixando a impressão de que se dividiram apenas para cuidar do
espólio, depois de alcançarem o poder.
Assim, dr.
Dirceu, não somos nós, da imprensa, a desconstruir o PT. É o próprio partido,
cultor do Manifesto Antropofágico.
LIÇÕES DE GRACILIANO
O
inesquecível Graciliano escreveu certa vez: “há tanta gente tentando
salvar o país que só por milagre deixarão de acabar com ele...”
Fonte: http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=58409
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