Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Depois de longo
tempo ouvindo, vendo, e tratando crianças dei por fé que sem o envolvimento
familiar não se poderá praticar uma boa Pediatria. São os avós, os tios, os
padrinhos quando não os compadres e as comadres, vizinhos e os aparentados
—, que escolhem o Pediatra para a Criança, e por que não dizer, os
maiores palpiteiros das nossas condutas e ações.
Ao examinar uma criança você está sendo
julgado e ajudado pelos seus atos. Passa-se o Tempo, nos flagramos
não abandonando o que ficou guardado na minha cabeça, o muito que
aprendi com os meus pequenos pacientes ao abraçar, inevitavelmente, seus pais.
Continuar meus tempos de eterno aprendizado, sempre, e permanecer ao lado
deles e de seus familiares, de certa forma, me daria
capacitaria em ser médico de postura psicossomática,
intitulado, investindo-me médico de jovem. Atente, que essa
atitude não foi inteiramente, como tudo na vida, de moto próprio, e
sim, quando me dei conta que eu estava virando conselheiro,
amigo, confidente e fazendo psicoterapia dos meus
antigos "pequenos" pacientes. Aperfeiçoei-me durante
quinze anos com as pessoas certas nos lugares mais adequados— meu Professor/Doutor
Donald Winnicott (pediatra e psicanalista infantil e de adultos) e depois, a
Tavistock de Londres, são só dois exemplos— e como costumo repetir o
aforismo: “Criança Pai do Homem”, não
foi difícil para mim realizar esses intentos.
Fui também muito
ligado ao psicanalista o Dr. José de Almeida Lins— que trouxe a Psicanálise
para a Região Nordestina — e ao psiquiatra e psicossomatista Dr. Samuel Hulak,
ao qual devo-lhe os ensinamentos como me tornar um psicoterapeuta. Considero-o
um irmão. A experiência e a escola do tempo e das sábias orientações
desses dois companheiros, me ajudaram a largar ser um médico organicista,
curando-me do academicismo que busca de titulações e penachos acadêmicos, para
me tornar, cada vez mais um profissional de saúde. Para ajudar, apenas
isso...
Outro fato que me tirou da
ociosidade não mais exercendo a pediatria, foi à vontade de escrever. Logo
após ter realizado o concurso para titular de Clínica Pediátrica Médica para a
Universidade de Pernambuco, fui conduzido à Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores (SOBRAMES/ PE), através das mãos amigas, seguras e bondosas do
Professor Veloso Costa, onde aportei e fui muito bem acolhido; sem haver nada
publicado, levando apenas — o gosto pela Literatura. Em época de vida em que
novas amizades são quase impossíveis de acontecer, encontrei na Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores novos afetos. Amigos, na idade, em que os
amigos escasseiam e/ou ficamos mais seletivos, ou impertinente.
Eu Conto:
Quanto mais a
tecnologia médica cresce mais as regras do Mercado vão desumanizando a
Profissão. Quando na verdade mais seria necessário o ensino de noções de
psicossomáticas, ou mesmo, uma disciplina que transpasse todo
currículo da formação médica. Para isso, nada melhor que a Literatura. Como
ensina o Dr. Samuel Hulak, fazer Humanização da Medicina é
redundância, ela já nasce humanizada, o que é
necessário para Humanizar o Médico! Cada doente é um novo
desafio. Assim como para o escritor é, uma página em branco. Ambas são jornadas
misteriosas.
Valho-me dos ditos latinos pela pertinência
"Scribitur ad narrandum non profandum" (escrever para narrar,
não para provar) para quem escreve, lembrar para os dois que — Sedare
dolorem Divinus Est (sedar a dor é atributo divino). Excessos verbais
terminam encobrindo a memória com uma vaidade tímida.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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