Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Vivemos, enfim, mais uma mudança de datas, que traz
consigo a perspectiva de algo ainda desconhecido, mas com uma evidente
necessidade de ceder e mudar, para trazer esperança, ou mesmo sensação de
esperança.
Mas, afinal, o que desejamos após enfrentarmos
tantas dificuldades e incertezas? Somente a sensação de estarmos
sobreviventes é suficiente para acreditar na superação das contradições em que
vivemos?
A dualidade humana, entre o comum e o incomum,
entre o certo e o errado, nos persegue desde o pecado original, doutrina cristã
para explicar a imperfeição humana. Independente da religião, o enigma da
relação do homem com seus erros persiste ao longo da nossa história em todas as
vertentes do conhecimento.
O passado de insensatez diante dos
desafios nos causa muitas indagações diante do momento em que vivemos. E mais
ainda, quando constatamos que a repetição dos erros sucedem-se, apesar das
experiências do passado.
Para Bárbara Tuchman existem quatro tipos de
desgoverno. O primeiro é a tirania ou opressão, cujos exemplos são inúmeros,
não sendo necessário exemplificá-los. O segundo refere-se à ambição desmedida,
como a da Alemanha nas duas tentativas de dominar a Europa, ou mesmo na
tendência atual de eliminar qualquer forma de oposição. Tal medida usa, em
geral, de avaliações burladas da realidade, fazendo supor supérfluo as demandas
da própria sociedade.
O terceiro trata da incompetência, geralmente
apresentada ao final de sucessivos governos. Sobre esse aspecto vale a leitura
dos princípios da incompetência de Laurence Peter, que expõe a universalidade
da ineficiência quando da administração pública sem méritos. Ele diz, afinal
"todo mundo é incompetente, inclusive você". Discorre, sob tom algo
jocoso, as formas de indicação de poder dentro dos partidos. Ou seja, na
maioria das vezes o "puxador" de votos nem sempre tem competência
para o exercício do executivo e do legislativo. A simples eleição para o
parlamento não lhe transfere competência para participar de comissões.
A quarta forma de desgoverno relaciona-se a
insensatez, cuja constatação se dá na execução de políticas
adversas aos próprios interesses da sociedade, estando as decisões
submetidas ao interesse de um grupo, conduzindo a gestão, portanto, a
resultados improdutivos.
A meu ver, qualquer das formas de desgoverno passa
pelo exercício do poder, seus mecanismos e implicações éticas.
E no Estado republicano, diferentemente
da monarquia absolutista, o bem comum está acima de interesses
particulares, de classes, grupos ou corporações. Nesse regime, o chefe de
Estado deve permanecer no poder por tempo limitado, sendo escolhido pelo povo.
No entanto, nos dias atuais tudo ocorre como
outrora. Ou seja, dentro dos princípios da insensatez e da incompetência,
independente da corrente ideológica e dos modelos de representação.
Assim, o mundo, e de forma mais agressiva, o mundo subdesenvolvido, mantém os
mecanismos mais primários de exercício do poder.
Enfim, é preciso entender que, em geral, a classe
que alcança o poder político apresenta seu próprio interesse como
interesse geral. E, infelizmente, essa universalidade pretensa, é apenas uma
forma ilusória da coletividade, sendo tudo um indicativo, também, de
"alienação".
(*) Médico. Professor da UFC. Secretário Estadual
de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/01/2022. Opinião. p.17.
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