sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

OS PRINCÍPIOS DA INSENSATEZ E DA ALIENAÇÃO

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Vivemos, enfim, mais uma mudança de datas, que traz consigo a perspectiva de algo ainda desconhecido, mas com uma evidente necessidade de ceder e mudar, para trazer esperança, ou mesmo sensação de esperança.

Mas, afinal, o que desejamos após enfrentarmos tantas dificuldades e incertezas? Somente a sensação de estarmos sobreviventes é suficiente para acreditar na superação das contradições em que vivemos?

A dualidade humana, entre o comum e o incomum, entre o certo e o errado, nos persegue desde o pecado original, doutrina cristã para explicar a imperfeição humana. Independente da religião, o enigma da relação do homem com seus erros persiste ao longo da nossa história em todas as vertentes do conhecimento.

O passado de insensatez diante dos desafios nos causa muitas indagações diante do momento em que vivemos. E mais ainda, quando constatamos que a repetição dos erros sucedem-se, apesar das experiências do passado.

Para Bárbara Tuchman existem quatro tipos de desgoverno. O primeiro é a tirania ou opressão, cujos exemplos são inúmeros, não sendo necessário exemplificá-los. O segundo refere-se à ambição desmedida, como a da Alemanha nas duas tentativas de dominar a Europa, ou mesmo na tendência atual de eliminar qualquer forma de oposição. Tal medida usa, em geral, de avaliações burladas da realidade, fazendo supor supérfluo as demandas da própria sociedade.

O terceiro trata da incompetência, geralmente apresentada ao final de sucessivos governos. Sobre esse aspecto vale a leitura dos princípios da incompetência de Laurence Peter, que expõe a universalidade da ineficiência quando da administração pública sem méritos. Ele diz, afinal "todo mundo é incompetente, inclusive você". Discorre, sob tom algo jocoso, as formas de indicação de poder dentro dos partidos. Ou seja, na maioria das vezes o "puxador" de votos nem sempre tem competência para o exercício do executivo e do legislativo. A simples eleição para o parlamento não lhe transfere competência para participar de comissões.

A quarta forma de desgoverno relaciona-se a insensatez, cuja constatação se dá na execução de políticas adversas aos próprios interesses da sociedade, estando as decisões submetidas ao interesse de um grupo, conduzindo a gestão, portanto, a resultados improdutivos.

A meu ver, qualquer das formas de desgoverno passa pelo exercício do poder, seus mecanismos e implicações éticas.

E no Estado republicano, diferentemente da monarquia absolutista, o bem comum está acima de interesses particulares, de classes, grupos ou corporações. Nesse regime, o chefe de Estado deve permanecer no poder por tempo limitado, sendo escolhido pelo povo.

No entanto, nos dias atuais tudo ocorre como outrora. Ou seja, dentro dos princípios da insensatez e da incompetência, independente da corrente ideológica e dos modelos de representação. Assim, o mundo, e de forma mais agressiva, o mundo subdesenvolvido, mantém os mecanismos mais primários de exercício do poder.

Enfim, é preciso entender que, em geral, a classe que alcança o poder político apresenta seu próprio interesse como interesse geral. E, infelizmente, essa universalidade pretensa, é apenas uma forma ilusória da coletividade, sendo tudo um indicativo, também, de "alienação". 

(*) Médico. Professor da UFC. Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/01/2022. Opinião. p.17.

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