Por
Vladimir Spinelli Chagas (*)
O Sistema Único de Saúde (SUS) permite uma cobertura ampla, seja
através das redes públicas, seja pelas entidades filantrópicas, das quais a
Santa Casa de Fortaleza é um dos bons exemplos.
Mas é preciso muito cuidado, pois a defasagem da Tabela SUS gera
problemas financeiros para todo o sistema, sufocando especialmente as
filantrópicas que, não estando inscritas no orçamento estatal, precisam
encontrar outras fontes de recursos para cobrir os cada vez maiores déficits
mensais.
Tendo a Santa Casa como referência, por ser um hospital com 95% de
pacientes SUS, vemos que as receitas daí geradas são suficientes para honrar
apenas 60% das despesas incorridas.
Para manter os 13.000 atendimentos mensais, nos valemos de recursos
de emendas parlamentares e doações, que não mais atingem os 40%
necessários, resultando em crescimento da dívida junto a fornecedores e
prestadores de serviços.
Da parte dos credores, realçamos a compreensão que nos reforça no
trabalho interno de modernização da Santa Casa e na busca de novas parcerias, especialmente
para os avanços planejados em termos de inovação, com mais de uma dezena de
acordos em andamento ou assinados.
Entretanto, essas ações não têm retorno imediato e precisamos
responder aos nossos credores com atos e não apenas com as esperanças
levantadas a partir de contatos já feitos nas áreas empresarial, governamental
e política, que reforçam a confiança no sucesso das iniciativas, mas
mantém um risco que não se pode desprezar, porquanto fornecedores e prestadores
de serviços têm seus próprios limites e não podem sustentar uma situação
deficitária por longo tempo.
Assim, a atualização da Tabela SUS, que hoje remunera uma consulta
médica em R$ 10 (dez reais), é uma imposição para que não se venha aumentar o
número de hospitais filantrópicos a fecharem suas portas, como ocorreu com 315
deles, no período de 2018 a 2022, representando menos 7.000 leitos.
A Santa Casa de Fortaleza, salvando vidas desde 1861, continuará
lutando com toda garra para que essa situação se reverta rapidamente e possamos
multiplicar e não reduzir nossa atuação pelos mais carentes.
(*) Professor aposentado
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/08/23. Opinião, p.20.
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