quarta-feira, 10 de março de 2021

A BUSCA PELO ALMEJADO CONSENSO

Por Carlile Lavor (*)

Entre os progressos alcançados no enfrentamento de epidemias estão duas instituições centenárias brasileiras criadas para a produção de insumos para a saúde pública: a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Governo Federal, e o Instituto Butantan, do Estado de São Paulo. Elas acompanham a fabricação e os testes de duas vacinas entre as mais promissoras para a prevenção da Covid-19, garantindo que tenhamos uma produção nacional segura. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é recente, nascida em 1999. Tem a responsabilidade de fiscalizar a qualidade de todos os produtos que se relacionem com a saúde. Ainda jovem, se firma como instituição que merece o respeito da sociedade brasileira. Confiamos nos laudos que a Anvisa ofereceu com as novas vacinas, levando em conta o seu caráter emergencial ou regular.

No grande laboratório no qual se tornou o mundo, é possível avaliar o resultado das medidas adotadas em cada país no enfrentamento da doença e uma conclusão parece óbvia: aqueles países que agem de forma coordenada, sob consenso, têm alcançado os melhores frutos.

Mas continuamos com grandes perdas de vidas humanas e perturbação do convívio social. O Brasil precisa seguir o rumo do consenso e interromper o círculo vicioso no qual se transformou o debate público sobre o problema, no qual os políticos e a mídia têm contribuições determinantes. Enquanto parte da classe política se aproveita do espaço aberto pela mídia apenas para reafirmar suas posições, parte da mídia explora os discursos políticos radicalmente divergentes apenas para ganhar mais público.

O Ministério da Saúde (MS) juntamente com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e com o Conselho de Secretários Municipais (Conasems) vêm diminuindo o dissenso. Essas três instituições definiram os grupos prioritários para a vacinação e a aquisição para o Sistema Único de Saúde (SUS) da produção da Fiocruz e do Butantan. Há ainda muitos temas a tratar: o intervalo entre as duas doses da vacina, o tratamento dos doentes e a identificação e o isolamento dos doentes para prevenir a disseminação do vírus. É hora da academia e seus cientistas terem voz mais ativa nessa busca pelo consenso, como vem conseguindo o MS, o Conass e o Conasems.

(*) Médico-sanitarista. Coordenador da Fiocruz Ceará. Membro titular da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/2/2021. Opinião. p.19.

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