Há um sábio provérbio milenar chinês que proclama: “Quando uma mulher trai o seu marido pela primeira vez, a justiça deve castigar o amante; se ela reincidir na prática da traição, a mulher deve ser castigada; porém, se ela trair pela terceira vez, castigue-se o seu marido”.
Um sargento da aeronáutica chegou a Fortaleza transferido de outro
estado para servir na Base Aérea local. Logo que ele aportou na capital
cearense, sua mulher danou-se a aplicar-lhe chifres: era uma sucessão de
amantes, tanto em série como em paralelo, que não dava descanso em sua cabeça
de touro.
Ela não tinha nem o cuidado de disfarçar ou de esconder do marido a
sua traição, fato que passou a ser de conhecimento de toda a corporação militar
da aeronáutica, o que incrementava a cobiça da mulher alheia por parte de seus
colegas.
O sargento já não aguentava mais os comentários maldosos, as
piadinhas e as indiretas dos seus companheiros de farda. Até os seus
subordinados, cabos e soldados, não mais o respeitavam, sendo isso imperdoável
por afetar o seu desempenho profissional.
Sentindo-se desgastado com a situação, por ser alvo da chacota
geral de seus camaradas, que o tachavam de corno manso, após se aconselhar com
o capelão, pediu para que o religioso desse uns conselhos à sua esposa, para
que ela voltasse para o caminho do bem e não persistisse na trilha do pecado,
desonrando o seu lar.
O apelo do religioso não surtiu qualquer efeito, posto que a
candidata à Messalina fez ouvidos de mercador, prosseguindo a sua sanha de
plantar apêndices corneanos na testa do inditoso marido.
Diante disso, o sargento solicitou a um oficial superior que
intermediasse uma audiência diretamente com o comandante da Base Aérea, para
tratar do seu caso.
Durante a audiência, o sargento expôs ao comandante, por longo
tempo, a sua vexaminosa condição, sendo ouvido atentamente pela autoridade
militar, que então declarou:
– Eu compreendo perfeitamente
a sua situação e sou solidário com o seu penar; porém, nada posso fazer contra
a sua cara-metade, porquanto se trata de um problema particular, e no âmbito
familiar, não comportando qualquer ingerência nossa.
– Mas, comandante, eu jamais pediria que o senhor punisse a
minha mulher, pois, apesar de tudo, eu ainda a amo muito.
– Então, você estaria
desejando que eu apenasse os homens com os quais ela teve envolvimento carnal?
Pelo que você contou, eu puniria quase metade do nosso regimento, desde recruta
a brigadeiro.
– Não, comandante! Não é isso o que eu quero.
– Pois, diga-me qual é a
razão do seu problema, para eu pensar em uma solução.
– Acho que o problema está nesta terra. Já servi em outras
praças e a minha mulher sempre me foi fiel, nunca me traiu.
– Expresse, por favor, a sua
reivindicação, sargento.
– Eu quero ser transferido daqui para outro estado,
comandante. Os cearenses são muito “tarados”. Eles não dão descanso à minha
mulher; é por isso que ela me trai tanto.
A transferência foi-lhe concedida, prontamente, mas não como um
castigo preconizado pela sabedoria chinesa.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ordinário, marche! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2015. 112p. p.90-91.
Nenhum comentário:
Postar um comentário