domingo, 28 de março de 2021

TARADOS CEARENSES

          Há um sábio provérbio milenar chinês que proclama: “Quando uma mulher trai o seu marido pela primeira vez, a justiça deve castigar o amante; se ela reincidir na prática da traição, a mulher deve ser castigada; porém, se ela trair pela terceira vez, castigue-se o seu marido”.

Um sargento da aeronáutica chegou a Fortaleza transferido de outro estado para servir na Base Aérea local. Logo que ele aportou na capital cearense, sua mulher danou-se a aplicar-lhe chifres: era uma sucessão de amantes, tanto em série como em paralelo, que não dava descanso em sua cabeça de touro.

Ela não tinha nem o cuidado de disfarçar ou de esconder do marido a sua traição, fato que passou a ser de conhecimento de toda a corporação militar da aeronáutica, o que incrementava a cobiça da mulher alheia por parte de seus colegas.

O sargento já não aguentava mais os comentários maldosos, as piadinhas e as indiretas dos seus companheiros de farda. Até os seus subordinados, cabos e soldados, não mais o respeitavam, sendo isso imperdoável por afetar o seu desempenho profissional.

Sentindo-se desgastado com a situação, por ser alvo da chacota geral de seus camaradas, que o tachavam de corno manso, após se aconselhar com o capelão, pediu para que o religioso desse uns conselhos à sua esposa, para que ela voltasse para o caminho do bem e não persistisse na trilha do pecado, desonrando o seu lar.

O apelo do religioso não surtiu qualquer efeito, posto que a candidata à Messalina fez ouvidos de mercador, prosseguindo a sua sanha de plantar apêndices corneanos na testa do inditoso marido.

Diante disso, o sargento solicitou a um oficial superior que intermediasse uma audiência diretamente com o comandante da Base Aérea, para tratar do seu caso.

Durante a audiência, o sargento expôs ao comandante, por longo tempo, a sua vexaminosa condição, sendo ouvido atentamente pela autoridade militar, que então declarou:

– Eu compreendo perfeitamente a sua situação e sou solidário com o seu penar; porém, nada posso fazer contra a sua cara-metade, porquanto se trata de um problema particular, e no âmbito familiar, não comportando qualquer ingerência nossa.

– Mas, comandante, eu jamais pediria que o senhor punisse a minha mulher, pois, apesar de tudo, eu ainda a amo muito.

– Então, você estaria desejando que eu apenasse os homens com os quais ela teve envolvimento carnal? Pelo que você contou, eu puniria quase metade do nosso regimento, desde recruta a brigadeiro.

– Não, comandante! Não é isso o que eu quero.

– Pois, diga-me qual é a razão do seu problema, para eu pensar em uma solução.

– Acho que o problema está nesta terra. Já servi em outras praças e a minha mulher sempre me foi fiel, nunca me traiu.

– Expresse, por favor, a sua reivindicação, sargento.

– Eu quero ser transferido daqui para outro estado, comandante. Os cearenses são muito “tarados”. Eles não dão descanso à minha mulher; é por isso que ela me trai tanto.

A transferência foi-lhe concedida, prontamente, mas não como um castigo preconizado pela sabedoria chinesa.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ordinário, marche! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2015. 112p. p.90-91.

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