Por Licínio Nunes de Miranda
(*)
Em 1654, o português Álvaro
de Azevedo Barreto foi nomeado capitão-mor do Ceará e recebeu das mãos dos
holandeses (Mathias Beck) a posse do forte Schoonenborch, construído poucos
anos antes, de acordo com o tratado de paz entre Holanda e Portugal.
O capitão-mor português
trouxe consigo uma imagem de Maria, mãe de Jesus, como “Nossa Senhora da
Assunção”.
Como era de costume entre os
portugueses, o capitão-mor Álvaro de Azevedo renomeou o forte holandês com o
nome de “Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção”, em homenagem a imagem, que
foi mantida em uma capela próxima à fortificação.
Os anos passaram, e uma
pequena vila cresceu ao redor da fortaleza. A vila recebeu o mesmo nome do
forte: Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção ou, simplesmente, Fortaleza.
Em 1881, a antiga imagem de
Nossa Senhora da Assunção foi removida de um oratório arruinado no pátio da
fortaleza e levada para o seu interior.
Havia muito tempo que não
era mais venerada pelos fortalezenses, que cultuavam São José e outros santos.
Em 1889, com o golpe militar
que acabou com a monarquia e instaurou a república, ocorreu a separação entre a
igreja e o estado.
A imagem foi entregue ao
bispo dom Joaquim José Vieira. Sem haver quem se interessasse pela antiga
imagem, que dera o nome à capital do Ceará, o bispo a ofereceu a única pessoa
que compreendia a sua importância e defendia a sua preservação: meu trisavô,
Licínio Nunes de Melo (1849–1924).
Licínio, tenente-coronel
comandante do 1º regimento de cavalaria da Guarda Nacional e, posteriormente,
secretário do interior e da justiça (em 1912–1913, durante o governo de Franco
Rabelo), era muito religioso e apaixonado pela história do Ceará. Ele ergueu um
oratório particular em seu sítio Jucurutuoca, em Messejana, onde guardou a
imagem.
Com o seu falecimento,
passou para o seu filho José Licínio Nunes de Melo e, posteriormente, aos
filhos deste, que em 2013 doaram a imagem para a Fortaleza de Nossa Senhora da
Assunção (10ª Região Militar), no centro da cidade.
Retornou para o seu lugar de
origem e hoje se encontra no museu daquele quartel militar, sob a curadoria do
general Júlio Lima Verde, atual presidente do Instituto do Ceará.
Nossa Senhora da Assunção se
tornou, então, padroeira desta cidade de Fortaleza. E o dia 15 de agosto é
venerado como o da “assunção” de Maria. Por isso, no dia 15 de agosto,
lembramos de Maria, de Fortaleza e dessa fantástica história dessa imagem do
século XV, talvez o objeto europeu mais antigo ainda presente nesta cidade!
A primeira pintura mostra a chegada da imagem, sendo observada pelo capitão-mor Álvaro de Azevedo Barreto e por seus subordinados, em 1654.
A segunda mostra seu
guardião, o coronel Licínio, ao lado da imagem. Ambas são de autoria de Rodval
Matias.
A terceira é uma fotografia de autoria de João Flávio Nogueira da imagem original, mantida no museu da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
(*) Historiador cearense atualmente cursando PhD nos EUA
Fonte: Grupo de WhatsApp dos sócios do Instituto do Ceará em 15/8/23.
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