Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
Estávamos
em 1992. Éramos Deputados Federais. Porém, conheci pessoalmente o Dr. Ulisses
Guimarães no ano de 1984, quando, ao lado de outros políticos, iniciamos
pacificamente e através do diálogo o processo que culminou com a vitória de
Tancredo Neves sobre Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral. Foi o primeiro passo
concreto para a redemocratização do Brasil. O perfil de Ulisses é o perfil da
Pátria das liberdades. Sempre defendeu um País rico, com justiça em todos
segmentos da sociedade. A integridade pessoal, a coerência política, a coragem
cívica e a obstinada tenacidade na construção de uma Nação maior são os
elementos de que se utilizou para compor, aos olhos dos brasileiros, a figura
do gigante que se alteia sobre os outeiros da Pátria e projeta esperança no
futuro, como senhor do destino. Creio que hoje não muitos reconhecem e dão
importância ao “Senhor Democracia”. Após 1984, tínhamos uma amizade
institucional, digamos assim. A partir de 1992, desenvolvemos uma amizade verdadeira,
às vezes externando revelações confidenciais. Em Brasília, morávamos no mesmo Bloco
“C” da SQN 302, ele no apartamento 501 e eu no de número 403. Portanto, éramos
vizinhos. Após as sessões na Câmara dos Deputados, depois do jantar e do Jornal
Nacional, algumas vezes me convidava para trocarmos ideias sobre o momento
político do Brasil. Recebia do Dr. Ulisses verdadeiras aulas não só de
política, mas de economia, desenvolvimento regional, problemas sociais,
relações internacionais, dentre outros assuntos. Gostava muito de dizer: “Não perca a esperança de termos um
Brasil com justiça, paz, liberdade e desenvolvido.” Digo eu: um Brasil democrático. Por sua vez, pouco
antes do trágico acidente, cerca de 20 dias, numa dessas reuniões, olhou para
mim e disse: “Gonzaga, lhe darei
dois conselhos. O primeiro, nunca esqueça os seus princípios democráticos e o
segundo, tenha sempre em mente que a corrupção é o cupim da República.” Por fim, hoje em vários países,
as pessoas discutem esquerda e direita. Na realidade, o problema é mais sério e
a dicotomia é Democracia e Ditadura, usando táticas e estratégias aéticas.
P.S.: Nós brasileiros não esqueçamos o legado deixado por
Dr. Ulisses Guimarães.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC.
Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, 7/07/2023. Ideias.
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