Por Carlos Viana (*)
Na última semana, a vereadora de Arcoverde (PE), Zirleide Monteiro
(PTB), afirmou que uma mulher da cidade teve um filho autista como
"castigo de Deus".
A fala da parlamentar nos faz remontar a época da Idade Média,
quando a Igreja afirmava que pessoas com deficiência eram fruto do pecado, e
que tinham o diabo no corpo. Com esse discurso, muitas pessoas com deficiência
foram perseguidas durante a Idade Média, sofrendo inúmeros tipos de
violência, como física, psicológica e sexual. Sem falar, claro, que muitas
pessoas com deficiência por, segundo a Igreja, terem o diabo no corpo, terem
sido queimadas vivas nas fogueiras da inquisição.
É inegável que o Brasil, nos últimos anos, vem vendo discursos
capacitistas contra pessoas com deficiência aumentando. Muitos desses
discursos, a exemplo do que aconteceu na Idade Média, são proferidos por
pessoas ligadas a setores mais radicais de algumas igrejas.
Não sei qual a religião de Zirleide Monteiro, mas seu discurso
inflamado mostra que esse tipo de pensamento capacitista é cada vez mais comum
no Brasil.
Eu mesmo, enquanto pessoa com deficiência, já sofri inúmeros
preconceitos e ouvi falas capacitistas. Em muitos casos, a pessoa em questão
dizia que eu tinha que buscar uma igreja para "me curar" e encontrar
a salvação.
Importante ressaltar que a deficiência não é uma doença, mas sim a
condição de uma pessoa. Dizer que uma pessoa com deficiência "precisa ser
curada" é extremamente desrespeitoso e grosseiro.
Mas Zirleide não é a única parlamentar a usar a tribuna para
proferir discursos contra pessoas com deficiência. Há poucos meses o vereador e
presidente da Câmara de Jucas, Eúdes Lucas (PDT), disse que autismo se curava na
"chibata".
O pseudo humorista Leo Lins também se junta ao time. Atualmente ele
responde na Justiça processos por piadas racistas e capacitistas contra pessoas
negras e com deficiência. Rafinha Bastos também é outro que usou sua fama para
estimular o preconceito. Ele já chamou pessoas com síndrome de Down de
"ridículas".
Que tal se essas pessoas utilizassem sua fama ou, no caso dos
parlamentares, a tribuna, para passarem informações que contribuam para uma
sociedade mais nclusiva? Fica a dica.
(*) Jornalista. Repórter do Núcleo de Opinião do jornal O POVO.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/11/23. Opinião, p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário