Por Sofia Lerche Vieira (*)
Dados do Censo da Educação Superior de 2022 evidenciam vertiginoso
crescimento da educação a distância (EaD) em período recente. O debate acerca
do tema tem estado presente na mídia nacional e local e gerado polêmicas.
Matéria do O POVO (30/10/2023) destaca que, em 10 anos, o "ingresso em
graduações a distância aumentou 779% no Ceará". Se, em 2012, 15,9% das
matrículas se concentravam nesta modalidade, em 2022 esse percentual havia
atingido 62%. O que teria motivado tamanha expansão? Vale a pena trazer à luz
alguns elementos de reflexão.
Uma flexibilização das regras para a oferta de EaD, em 2017, deu
autonomia às instituições de ensino superior para abrir até 250 polos desta
modalidade, sem prévia autorização do MEC. Tal abertura beneficiou a oferta de
EaD que já era predominante na rede privada, sobretudo por grandes grupos educacionais.
A intensificação do uso da tecnologia durante a pandemia, por sua vez, criou um
cenário propício à sua expansão em um contexto adverso às atividades
presenciais.
Se a ampliação da oferta privada teve um boom nos últimos anos, o
que dizer da EaD pública que também cresceu? Com participação da União, dos
estados e dos municípios, a Universidade Aberta do Brasil (UAB) tem se
constituído em alternativa promissora à democratização da educação superior no
País. No Ceará essa oferta se distribui entre as universidades federais,
estaduais e o instituto federal, que formam um consórcio atuante, produtivo e
com aceitação positiva junto a seus usuários. Os resultados de avaliação das
redes privadas e públicas de EaD no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(Enade) têm mostrado visível superioridade no desempenho das instituições
públicas sobre as particulares. Se ainda insuficientes para uma avaliação mais
rigorosa, esses dados indicam a necessidade de separar o joio do trigo. Se a
EaD é uma alternativa plausível e necessária à ampliação da oferta, é imperioso
que se conheça não apenas a função social que esta modalidade representa, como
também a sua real contribuição ao desenvolvimento do País e à
profissionalização dos jovens.
(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e
consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/11/23. Opinião. p.28.
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