terça-feira, 12 de dezembro de 2023

EaD NA BERLINDA

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Dados do Censo da Educação Superior de 2022 evidenciam vertiginoso crescimento da educação a distância (EaD) em período recente. O debate acerca do tema tem estado presente na mídia nacional e local e gerado polêmicas. Matéria do O POVO (30/10/2023) destaca que, em 10 anos, o "ingresso em graduações a distância aumentou 779% no Ceará". Se, em 2012, 15,9% das matrículas se concentravam nesta modalidade, em 2022 esse percentual havia atingido 62%. O que teria motivado tamanha expansão? Vale a pena trazer à luz alguns elementos de reflexão.

Uma flexibilização das regras para a oferta de EaD, em 2017, deu autonomia às instituições de ensino superior para abrir até 250 polos desta modalidade, sem prévia autorização do MEC. Tal abertura beneficiou a oferta de EaD que já era predominante na rede privada, sobretudo por grandes grupos educacionais. A intensificação do uso da tecnologia durante a pandemia, por sua vez, criou um cenário propício à sua expansão em um contexto adverso às atividades presenciais.

Se a ampliação da oferta privada teve um boom nos últimos anos, o que dizer da EaD pública que também cresceu? Com participação da União, dos estados e dos municípios, a Universidade Aberta do Brasil (UAB) tem se constituído em alternativa promissora à democratização da educação superior no País. No Ceará essa oferta se distribui entre as universidades federais, estaduais e o instituto federal, que formam um consórcio atuante, produtivo e com aceitação positiva junto a seus usuários. Os resultados de avaliação das redes privadas e públicas de EaD no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) têm mostrado visível superioridade no desempenho das instituições públicas sobre as particulares. Se ainda insuficientes para uma avaliação mais rigorosa, esses dados indicam a necessidade de separar o joio do trigo. Se a EaD é uma alternativa plausível e necessária à ampliação da oferta, é imperioso que se conheça não apenas a função social que esta modalidade representa, como também a sua real contribuição ao desenvolvimento do País e à profissionalização dos jovens. 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/11/23. Opinião. p.28.

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