quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

AS INCERTEZAS DA POLÍTICA ECONÔMICA

Por Lauro Chaves Neto (*)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad foi feliz quando afirmou que a política econômica é uma só, composta pelas políticas monetária, fiscal, cambial e de rendas que são interligadas e se influenciam mutuamente.

Quando estudamos economia, aprendemos que as expectativas representam umas das principais variáveis para a elaboração de cenários, e que os agentes econômicos sempre reagem, ou para influenciar ou para se defender.

A geopolítica internacional tem deteriorado as suas expectativas. O cenário para as principais economias não é dos melhores, com a Europa indo para uma recessão e a China tentando reverter a possibilidade de um crescimento menor. Mesmo para os EUA, com recentes resultados positivos, os cenários elaborados têm variado bastante.

A campanha eleitoral nos EUA, as Guerras na Ucrânia e em Israel, além do receio de algum conflito em Taiwan, elevaram a percepção de risco, o que traz preocupação crescente com os seus impactos na inflação e no crescimento no mundo.

Se as questões externas já são preocupantes, o enfraquecimento do arcabouço fiscal, com o aumento das chances de mudança da meta fiscal, coloca em dúvida a evolução da conjuntura positiva de 2023 com crescimento da atividade acima do esperado, redução da inflação e ciclo de queda dos juros.

Já no primeiro ano da nova regra fiscal, teríamos uma alteração na meta visando reduzir o contingenciamento orçamentário, sinalizaria que qualquer comprometimento com as metas futuras passaria a ter a credibilidade de um risco n'água.

O próprio arcabouço é enfraquecido, já que, se não há empenho com as metas, o mesmo deve valer para o cumprimento do limite de crescimento real das despesas, estabelecido com a nova regra fiscal.

As recentes declarações do presidente Lula sobre a meta de zerar o déficit primário, proposta pelo seu próprio governo, já impactou a curva de juros futuros e as expectativas. A política fiscal afeta as decisões sobre os juros básicos, tanto pelos seus impactos na demanda agregada como pela sua influência na percepção do risco, impactando também a política cambial, as expectativas de inflação e a política de rendas.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 13/11/23. Opinião. p.18.

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