quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

MORTE, UM MISTÉRIO DE FÉ E DE ESPERANÇA

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

Finados é uma das comemorações mais antigas da Igreja Católica, destina-se a rezar pelos fiéis defuntos, ou seja, aqueles que morreram na graça e na amizade de Deus, mas que ainda não estão plenamente purificados para entrar no céu.

É um dia sensível que vem acompanhado de recordação, saudade, ternura, e, claro, desperta uma certa tristeza. Mas, também é um dia para recordar que somos peregrinos neste mundo, que temos uma pátria definitiva no céu, onde nos espera o Pai misericordioso e os nossos irmãos na fé. Finados é um dia para renovar a nossa esperança na ressurreição dos mortos e na vida eterna. 

Embora a morte seja a única certeza que temos na vida, porque é algo inevitável e todos um dia passaremos por ela, encará-la com serenidade é um desafio para todo ser humano. Porém, para quem crê a morte não é o fim, mas uma passagem para a vida plena com o Senhor. "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente. Você crê nisso?" (Jo 11,25-26). Quem crê em Jesus tem a vida eterna, que é um relacionamento pessoal com Deus, que começa já aqui e se estende pela eternidade (cf. Jo 3,16).

Diante da morte de alguém, nos damos conta de que a nossa vida é finita. Só se nasce e só se morre uma vez, como afirma a Carta aos Hebreus: "E, assim como cada pessoa está destinada a morrer uma só vez, e depois disso vem o julgamento" (Hb 9,27). Então, não vamos ter outra oportunidade de conversão; tem que ser aqui e agora.

A vida é um dom valioso de Deus, mas devemos olhar para a morte também como um dom, pela ótica da Ressurreição de Cristo. Se tudo se resumisse a este tempo de vida que experimentamos aqui, seria desalentador. Por isso, quando Jesus entrou em nossa história e Se aproximou da humanidade, foi para nos reconciliar com Deus e acabar com aquilo que Ele não queria: a morte eterna. Foi para vencê-la que Jesus Cristo entrou no mundo.

A morte teve um autor, o Diabo. Então, quando Cristo experimentou-a, Ele a rompeu e trouxe de volta a primeira Criação. Nós recuperamos a qualidade de filhos co-herdeiros da Graça. Como afirmou o Apóstolo Paulo: "E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados" (Rm 8, 17). Portanto, o que nos espera é um lindo Céu: Deus. Essa é a nossa fé.

Claro que é muito doloroso perder alguém querido. A perda sofrida deve ser assim transmutada em um "até breve" e, quando o momento assim chegar, nosso reencontro será muito festejado e não haverá mais lugar para choro nem tristeza.

Até que esse dia chegue, é oferecida a nós a graça de rezar pelos que partiram, correspondente ao que chamamos de Comunhão dos Santos. "Em virtude da Comunhão dos Santos, a Igreja recomenda os defuntos à misericórdia de Deus e oferece em favor deles sufrágios, particularmente o santo sacrifício eucarístico" (CIC §1055).

Para quem crê, sabe esperar e manter-se firme, com fé e esperança, como Maria ficou aos pés da cruz, definitivamente, a morte não é o fim. É apenas uma passagem para a vitória final.

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 4/11/2023. Opinião. p.18.


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