sábado, 22 de maio de 2021

A EXPERIÊNCIA MATERNA NA ACADEMIA CEARENSE DE MEDICINA

 

Trinta anos depois da fundação da Faculdade de Medicina do Ceará, inaugurada em 12/05/1948, organizou-se uma nova instituição médica local - a Academia Cearense de Medicina (ACM), criada com o propósito maior de zelar pela História da Medicina no Ceará.

A ACM foi constituída por 26 sócios fundadores, escolhidos dentre médicos renomados e de méritos reconhecidos, para ocuparem as cadeiras, cujos patronos eram médicos falecidos, com valiosas contribuições à Medicina do Ceará.

Instalada em 12/05/1978, no Jubileu de Pérola da Faculdade de Medicina do Ceará, a ACM empossou, na ocasião, os seus fundadores e primeiros ocupantes das cadeiras.

Os primeiros ocupantes de cadeiras, assim como seus respectivos patronos, eram todos homens, configurando um fato aparentemente inusitado. A ausência de mulheres acadêmicas guardava consonância com a hegemonia masculina dos médicos daquela época e com o dispositivo estatutário que requeria 25 anos de formado para a admissão na ACM.

Embora a primeira turma formada no Ceará, a de 1953, fosse constituída por duas mulheres e apenas um homem, em maio de 1978 não havia médicas com o tempo mínimo de formatura para admissão, tanto de egressas da Universidade Federal do Ceará (UFC) como de outras faculdades de fora, porquanto era difícil uma jovem sair para cursar Medicina fora daqui.

A primeira mulher admitida na ACM foi a Acad. Glaura Ferrer Martins, que tomou posse em 15/09/89; a segunda foi Maria Gonzaga Pinheiro, empossada em 12/05/95 (falecida em 6/01/10), e a terceira, Maria (Helena) da Silva Pitombeira, admitida em 14/05/99.

Na primeira década do atual milênio, outras três médicas foram empossadas nessa arcádia: Lúcia Maria Alcântara de Albuquerque (24/11/05), Adriana Costa e Forti (13/05/05) e Lise Mary Alves de Lima (20/01/07).

Na última década, a ACM viu enriquecer o seu quadro feminino com a chegada de cinco novas acadêmicas: Maria Zélia Petrola Jorge Bezerra (18/11/11), Ana Margarida Arruda Rosemberg (14/11/14), Márcia Alcântara (29/04/16), Maria dos Prazeres Ferreira Rabelo (13/09/19) e Sara Lúcia Ferreira Cavalcante (25/10/19).

Ao todo, 11 mulheres foram eleitas e empossadas na ACM, das quais dez seguem vivas entre nós e dessas, duas passaram recentemente para o quadro de membros honoráveis. As atuais oito confreiras abrilhantam o silogeu médico cearense com suas presenças, conferindo um toque muito especial oriundo dos bons atributos femininos.

Com exceção de duas inuptas, quase todas as nossas confreiras, como filhas de Eva, experimentaram o sacrossanto postulado bíblico de gerar filhos entre dores do parto, mas não ficaram dissociadas da obrigação adâmica apregoada no Gênesis, porquanto comeram o pão com o suor dos seus rostos, nelas aliando as funções sócio-expressivas e provedoras.

A Acad. Glaura Ferrer, cardiologista e professora da UFC, gerou Luiz (advogado), Roberto (bacharel em Direito) e Fernando (marchand / antiquário).

A Acad. Helena Pitombeira, hematologista e professora da UFC, é mãe da Maria Helena (infectologista).

A Acad. Lúcia Alcântara, médica radioterapeuta, foi contemplada com dois filhos engenheiros: Ciro (engenheiro civil) e Carlos (engenheiro aeronáutico).

A Acad. Adriana Costa e Forti, endocrinologista e professora da UFC, trouxe ao mundo o Cássio (administrador e economista) e o Márcio (administrador e advogado).

A Acad. Zélia Petrola foi aquinhoada por três filhos vocacionados para a Medicina: Rachel, (patologista clínica/hematologista), João Evangelista Neto (oncologista) e Paulo (cirurgião torácico).

A Acad. Ana Margarida Rosemberg é mãe de Jana (pedagoga e fotógrafa profissional), Daniel (médico com especialização em patologia e em radiologia) e Liana (psicóloga).

A Acad. Márcia Alcântara teve os filhos Marcelo (pneumologista), Vanessa (jornalista) e Alexandre (médico de família).

A Acad. Maria dos Prazeres Rabelo, pediatra e endocrinologista pediátrica, deu à luz às filhas Helena (fonoaudióloga) e Cristina (reumatologista) e ao filho Paulo (advogado).

A Acad. Sara Cavalcante, anestesiologista e professora da UFC, foi brindada com três filhos: Raquel (otorrinolaringologista), Deborah (Juíza de Direito) e Aníbal (professor universitário).

Ao todo, nove confreiras procriaram 23 rebentos que se distribuíram em diversificadas profissões, comportando salientar que nove deles se tornaram médicos, abraçando a arte hipocrática, seguindo o exemplo de suas genitoras que sempre souberam exercer bem a profissão, sem se descurar dos compromissos inerentes à maternidade.

Hoje, com todos os filhos criados e profissionalmente encaminhados, elas são mães duplamente, como mães dos filhos de seus filhos, cultivando a arte de serem avós, zelando por uma herança recebida que, segundo Raquel de Queiroz, “se ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu...” e ainda encontram tempo para devotar ao salutar convívio fraternal na ACM.

Feliz Dia das Mães, caríssimas confreiras!

Acad. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Academia Cearense de Medicina – Cad. 18

*Publicado In: Jornal do médico digital, 2(14): 56-59, maio de 2021. (Revista Médica Independente do Ceará).


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