quarta-feira, 26 de maio de 2021

OS REFLEXOS DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL

Por Luísa Weber Bisol (*)

A pandemia de Covid-19 traz efeitos deletérios sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Além do impacto negativo sobre a saúde física e de possuir implicações econômicas e sociais, há aspectos afetando a saúde mental das pessoas.

Paralelamente à pandemia, gera preocupação a possibilidade de enfrentarmos uma epidemia de transtornos mentais como nunca presenciada na história da humanidade.

O clima de incerteza e insegurança somado a medo de contágio, isolamento social e estresse financeiro em pessoas vulneráveis podem acarretar transtornos depressivos, de ansiedade, relacionados ao uso de álcool e substâncias, transtorno de estresse pós-traumático, entre outros.

A morte devido à Covid-19 traz consigo a crueldade do isolamento. A impossibilidade de estar junto aos entes queridos na hora da morte pode acarretar um processo de luto complicado para familiares.

A preocupação relativa ao aumento exponencial de indivíduos acometidos por transtornos depressivos tem focado em alguns grupos que parecem suscetíveis: aqueles previamente acometidos por algum transtorno mental, indivíduos pouco resilientes, aqueles que residem em áreas com alta prevalência de Covid-19, aqueles que se contaminaram ou perderam entes queridos em decorrência da pandemia, idosos, profissionais da saúde que atuam na linha de frente...

Em nosso meio há o temor que seja necessário enfrentar dois colapsos: dos serviços de emergência e terapia intensiva e dos serviços de saúde mental. Anterior à pandemia, a sociedade já lidava com a escassez de recursos humanos e físicos para atender a demanda que já era grande e que infelizmente tende a aumentar.

O combate ao estigma que cerca os portadores de transtornos mentais e a psiquiatria urge para que os cuidados adequados possam ser ofertados correta e precocemente, evitando complicações graves como o suicídio.

Além do benefício da imunização, a oferta de vacinas para todos pode refletir positivamente na saúde emocional das pessoas, uma vez que traz a sensação de responsabilidade e cuidado dispensados pelos gestores à população. 

(*) Médica psiquiatra. Professora da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/4/21. Opinião, p.14.

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