Segundo Emiliano
Otelo de Sousa, presidentes com pouca afinidade com a leitura, lamentavelmente,
não constituem raridade na história do Brasil. O ex-presidente Lula, no período
de seu encarceramento curitibano, cumprindo a pena que lhe fora imposta em
segunda instância por crime de corrupção, teria folheado as páginas de uns 40
títulos. Sabe-se que, no percurso dos seus mais de 70 anos de homem livre, o petista
se orgulhava de nunca ter lido um livro até o final. Diante de tão insólita
proclamação, seus defensores vinham em seu socorro, alegando que ele não
precisava ler os livros porque mantinha a interlocução diretamente com os
autores das obras, o que dispensava a necessidade de ler tais obras.
Recuando ao tempo do
regime castrense brasileiro, vale lembrar da figura do Gal. Artur da Costa e
Silva, rotulado por seus desafetos de possuidor de uma “sesquipedal
ignorância”.
Quando aluno das
escolas militares, Costa e Silva era notável por ser um típico “papirador”,
assim denominado o aluno que se devotava aos estudos para obter boas notas em
provas e exames. Apesar do bom rendimento escolar, consta que ele nunca tivera
grande apreço pelos livros.
Emiliano de Sousa dá
ciência ainda no Jornal de Taquari que, certa vez, na sua residência em
Teresópolis-RJ, o ex-presidente Ernesto Geisel, depois de registrar a
excelência acadêmica do filho de Taquari nas escolas militares, contou ao showman
Jô Soares um causo relacionado ao presidente responsável pela edição do Ato
Institucional Nº 5 (AI-5).
Geisel relatou que
Costa e Silva estava aniversariando e um dos seus amigos militares sugeriu
dar-lhe um livro de presente, ao que outro colega de farda contestou a oferta:
– Um livro não pode.
–
Mas por quê? – Insistiu o proponente do
regalo.
– Porque ele já tem um livro – retrucou, maldosamente, o companheiro de
armas.
Pelo
que se tem observado de alguns recentes presidentes civis do Brasil a inimizade
com os livros parece ser fato corriqueiro. A Sra. Dilma Rousseff, cujos causos
foram e ainda vêm aos borbotões, falava que havia comprado e estava lendo
alguns livros, mas não conseguiu citar um só dos títulos dessas obras, quando
foi questionada pela imprensa. O atual presidente Bolsonaro não tem ou, quiçá,
não transparece ter qualquer afeição aos livros. Dele, recentemente, brotou uma
“pérola” que até parecia ter saído da boca de sua presidencial antecessora, ao
se reportar aos livros didáticos como um “amontoado de coisas escritas”.
Fonte: https://jornalotaquaryense.com/2020/05/27/opiniao-costa-e-silva-lula-bolsonaro-e-os-livros/
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Fora de forma! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2020. 128p. p.65-66.
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