Até
o início da II Guerra Mundial, em 1939, o governo de Getúlio Vargas guardava
bastante afinidade com o Nazifascismo, tendo, inclusive, instituído o chamado
Estado Novo, vigente de 1937 a 1945, no qual se compartilhavam certas
características com os regimes totalitários, a exemplo do anticomunismo.
A
Europa e grande parte do mundo estavam em guerra, enquanto o Brasil procurava
permanecer na neutralidade, condição que interessava aos países do Eixo
(Alemanha, Itália e Japão), mas era igualmente cortejado pelos Aliados,
liderados por Inglaterra, França e Estados Unidos, para ingressar no conflito
global. Distante do epicentro da confusão, o País prosseguia com sua política
de não se posicionar, tomando partido de qualquer lado em beligerância,
alimentando promissoras expectativas comerciais no pós-guerra.
Enquanto
o mundo estava imerso em uma guerra infernal, discutia-se aqui se o país
deveria entrar ou não no conflito. O governo Vargas assegurava que o País de
maneira alguma entraria na II Grande Guerra. Foi nos anos iniciais da década de
1940 que apareceu a famosa frase “é mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil
entrar na Guerra”. Alguns colocaram esse vaticínio na boca do fürher
Adolf Hitler e outro a atribuíram a Vargas, quando na verdade foi cunhada por
um jornalista brasileiro.
No
entanto, muito do pensamento dominante no Brasil se alterou com o próprio
desenrolar da guerra, quando esta passou a favorecer os Aliados em detrimento
do Eixo, assinalando a possível derrota deste grupo. O assédio por parte dos
Aliados continuava e especialmente os EUA tentavam seduzir o Brasil. A entrada
dos norte-americanos na guerra no final de 1941, após o traiçoeiro e infame
ataque japonês a Pearl Harbour, proporcionou uma série de benefícios logísticos
e financeiros ao Brasil.
Desse
modo, a apregoada neutralidade brasileira começou a ser anulada em 1942, quando
o Brasil cedeu seu território para que os EUA instalassem suas bases aéreas
militares em Fernando de Noronha e ao longo da costa nordestina, uma faixa de
terra de enorme valor estratégico, por sua situação geográfica próxima da
Europa Ocidental e também do Norte da África.
Os
ataques de submarinos alemães a embarcações comerciais brasileiras, produzindo
várias centenas de vítimas fatais, conduziram a opinião pública a uma drástica
mudança de rota, impingindo o governo à declaração de guerra contra a Alemanha
em 22 de agosto de 1942, levando o Brasil à luta contra o fascismo e o nazismo
no teatro de operações europeu, mais precisamente na bota italiana,
posteriormente.
Diante
da demora no envio das tropas, pairava no ar um certo ceticismo público, desde
1942, quando o presidente Getúlio Vargas anunciou que o Brasil não se
restringiria ao fornecimento de materiais e nem à expedição de contingentes
simbólicos.
E
assim se diz: a cobra fumou… Hoje, quando se usa essa expressão, – ou sua
variação no futuro, “a cobra vai fumar” –, a ideia que se quer passar é a de
que alguém “vai botar para quebrar”, que a coisa vai ficar “feia”. E foi
exatamente isso que o Exército quis dizer quando adotou a frase “A cobra está
fumando!”, como slogan da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), constituída em 1943 para lutar na
Europa, durante a
2ª Guerra Mundial, junto aos Aliados na Campanha da Itália.
O
slogan foi uma resposta à descrente opinião pública da época, que
afirmava ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. A
partida das tropas brasileiras para a Itália apenas aconteceu em junho de 1944.
Além
de adotar o irônico slogan, a FEB, cujo brasão da companhia trazia uma imagem
de uma cobra fumante, editou um periódico que se chamava ...E a Cobra Fumou!
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Fora de forma! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2020. 128p. p.60-62.
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