Por Érico Arruda (*)
Cursava o primeiro ano de residência médica em
infectologia, quando explodia a Aids em São Paulo, em 1990. Comentava-se o
início do esforço mundial pelo desenvolvimento da vacina. Sabia que iria
demorar, mas não imaginava o quanto.
A esperança veio claudicando com os frustrantes
resultados dos primeiros estudos, mas se reequilibrando a cada novo passo firme
na compreensão da complexa capacidade mutacional do vírus HIV e de
como essas mutações são capazes de driblar a resposta imunológica.
A vacina, portanto, precisa
despertar anticorpos (imunidade) para regiões mais preservadas (menos
modificadas) do vírus, e que sejam fundamentais ao seu mecanismo de replicação;
preferencialmente contra as estruturas que promovem sua entrada nas células
humanas, impedindo a infecção.
Desde então, avançamos substancialmente na prevenção
com uso dos medicamentos antirretrovirais, que chamamos de profilaxia
pós-exposição (PEP) e profilaxia pré-exposição (PrREP). Os
estudos com vacinas continuaram e chegamos atualmente a 20 candidatas em
fase pré-clínica (em animais de experimentação); 19 em fase clínica (estudos em
humanos) e 3 em fase mais avançada desses ensaios clínicos.
O estudo Mosaico é um deles, incluindo
vários países e com participação do Brasil. Trata-se de uma experimentação
utilizando vacinas com vetor do Adenovírus 26, modelo também utilizado com
sucesso na vacina contra Covid-19 da Janssen, e vários fragmentos de vários
subtipos de vírus HIV, daí o nome "Mosaico" (uma vez que existem
algumas diferenças entre os vírus que circulam em algumas regiões do planeta).
A vacina vem sendo testada desde 2019, com aplicações de 4 doses, a cada 3
meses, durante 1 ano.
Chegamos ao final do recrutamento internacional e
aguardamos pelos resultados, com esperanças renovadas, mas sem euforia, que
os fracassos anteriores nos ensinaram a evitar. Uso de preservativos,
diagnóstico e tratamento de infecção sexualmente transmissível, testagem para o
HIV e PrEP, deverão continuar como nossas principais estratégias na prevenção
do HIV, por mais alguns anos.
(*) Médico infectologista. Doutor em Doenças
Infecciosas e professor da UECE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/10/2021. Opinião. p.22.
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