segunda-feira, 22 de novembro de 2021

JK: síntese histórica

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

O fenômeno JK constitui um enigma político, social e cultural a merecer nossa mais profunda atenção. Como explicar a atração magnética que o governo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira exerce, depois de tantos anos, sobre os brasileiros? Não se trata, obviamente, da mera recordação de um excelente governo. Há algo mais aí, uma espécie de lufada de felicidade que passou por este país e insiste em nos acompanhar – como uma promessa e um desafio – após esses anos todos. Penso que o fenômeno se deve à convergência de dois fatores. Primeiro, há que ressaltar todo um contexto de realizações que se vinham acumulando nas décadas anteriores. Ao esforço nacional pela industrialização e pela sedimentação da unidade política e econômica de nosso imenso território somava-se, então, a incipiente prática democrática do pós-guerra, tudo isso vindo a desembocar em uma era de esfuziante produção cultural. A alegria de se reconhecer como um país destinado a um grande futuro tomava conta do Brasil, e a música, o cinema, a arquitetura, as artes em geral testemunhavam essa alegre descoberta. Mas a visão de conjunto da realidade social emergente não nos deve fazer esquecer do segundo fator, um fator, por assim dizer, subjetivo – e que era a própria personalidade do presidente eleito em 1955. Havia em Juscelino Kubitschek uma energia tal que parecia, à época, e parece, ainda, estender-se sobre o país e misturar-se com todas as realizações de nosso povo. Creio que nenhum estadista teria a coragem e a energia para construir Brasília, abrindo espaço na região Centro-Oeste! Acontece que Juscelino Kubitschek era realmente um ser humano excepcional, vocacionado para o futuro e para a grandeza. É interessante notar, nos discursos de JK, seu extraordinário respeito pelo cargo de primeiro magistrado da nação. À primeira vista, pode até parecer que havia ali algum tipo de orgulho pessoal, mas uma atenção maior às palavras do presidente esclarece que a valorização do cargo assenta em uma espécie de orgulho coletivo, o orgulho pelo país que presidia. P.S. “Um dos privilégios da vida é a presença perene da terra natal no coração humano”. (JK)

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 12/11/2021.

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