Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
O fenômeno JK constitui um enigma político, social e cultural a
merecer nossa mais profunda atenção. Como explicar a atração magnética que o
governo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira exerce, depois de tantos
anos, sobre os brasileiros? Não se trata, obviamente, da mera recordação de um
excelente governo. Há algo mais aí, uma espécie de lufada de felicidade que
passou por este país e insiste em nos acompanhar – como uma promessa e um
desafio – após esses anos todos. Penso que o fenômeno se deve à convergência de
dois fatores. Primeiro, há que ressaltar todo um contexto de realizações que se
vinham acumulando nas décadas anteriores. Ao esforço nacional pela
industrialização e pela sedimentação da unidade política e econômica de nosso
imenso território somava-se, então, a incipiente prática democrática do
pós-guerra, tudo isso vindo a desembocar em uma era de esfuziante produção
cultural. A alegria de se reconhecer como um país destinado a um grande futuro
tomava conta do Brasil, e a música, o cinema, a arquitetura, as artes em geral
testemunhavam essa alegre descoberta. Mas a visão de conjunto da realidade
social emergente não nos deve fazer esquecer do segundo fator, um fator, por
assim dizer, subjetivo – e que era a própria personalidade do presidente eleito
em 1955. Havia em Juscelino Kubitschek uma energia tal que parecia, à época, e
parece, ainda, estender-se sobre o país e misturar-se com todas as realizações
de nosso povo. Creio que nenhum estadista teria a coragem e a energia para
construir Brasília, abrindo espaço na região Centro-Oeste! Acontece que
Juscelino Kubitschek era realmente um ser humano excepcional, vocacionado para
o futuro e para a grandeza. É interessante notar, nos discursos de JK, seu
extraordinário respeito pelo cargo de primeiro magistrado da nação. À primeira
vista, pode até parecer que havia ali algum tipo de orgulho pessoal, mas uma
atenção maior às palavras do presidente esclarece que a valorização do cargo
assenta em uma espécie de orgulho coletivo, o orgulho pelo país que presidia.
P.S. “Um dos privilégios da vida é a
presença perene da terra natal no coração humano”.
(JK)
(*) Economista. Professor aposentado da UFC.
Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 12/11/2021.
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