Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… Entendo como
ciência um conjunto de técnicas e modelos que permite organizar o conhecimento
sobre uma estrutura de ocorrências objetivas. Por outro lado, entendo
P(p)olítica, como uma atividade ideológica destinada à tomada de decisões de um
bando/grupo/pessoas que visam alcançar objetivos e o exercício de competências
para a resolução de desordens.
Fazem-se ciências com fatos, como se faz uma casa com pedras, cimento,
tijolos e telhas, porém uma acumulação de fatos não é uma ciência, assim como
um acúmulo de material de construção não é uma casa. Não consigo assistir
praticamente qualquer programa de debate televisivo, em particular, aqueles
onde imperam os “intelectuais” que se intitulam cientistas políticos. Afirmam
alguns que fatores intelectuais, morais e de justiça se entrelaçam na definição
dessa classe.
Entendo como ciência um conjunto de técnicas e modelos que permite
organizar o conhecimento sobre uma estrutura de ocorrências objetivas. Por
outro lado, entendo P(p)olítica, como uma atividade ideológica destinada à
tomada de decisões de um bando/grupo/pessoas que visam alcançar objetivos e o
exercício de competências para a resolução de desordens.
Chamaria de pronto o leitor a distinguir as ciências formais (aquelas sem
conteúdo concreto, como a matemática) das ciências naturais (que estudam a
natureza, como a geografia) e das ciências sociais (que tratam de analisar os
fenômenos da cultura e a sociedade, como a história).
Assim sendo, posso afirmar que a ciência política é uma ciência social
que se dedica ao estudo da atividade política como um fenômeno universal, se
considerarmos o Estado como organização social.
Para não andar muito para o passado considero o renascentista Nicolas
Maquiavel (um dos fundadores desse conhecimento) que defendia que o único
objetivo da política é o controle do poder. A política encarrega-se, hoje em
dia, de analisar o exercício do poder político, as atividades estatais, a
administração e a gestão pública, os sistemas políticos, o regime partidarista,
os processos de eleições e outros assuntos correlatos. Fazer política é
encontrar a melhor forma de garantir os direitos e deveres dos cidadãos,
levando em conta as diferenças entre os indivíduos, bem como os interesses de
cada um.
…O que precisamos,
urgentemente, é empreender reformas em nossos políticos, antes de pensarmos em
reformas políticas. Estas últimas, com certeza, viriam, de forma automática,
como que por gravidade, se a política fosse uma ciência com fatos e
aprendizados.
O estudo da política exige que se trabalhe em assessorias de políticos,
partidos, sindicatos, organizações não-governamentais (ONGs), em assessorias a
parlamentares, vereadores, deputados e senadores; trabalhar como analista
político, produzindo dados eleitorais, atuando em institutos de pesquisa. E
ainda atuar com ‘marketing’ político em campanhas eleitorais e
servir como gestor do Governo, concebendo, implementando e avaliando as
políticas públicas das diversas áreas da administração.
Como a Universidade de Brasília virou a nossa, Versalhes Tropical, ela
seria o melhor “campus” universitário, por sua localização, para servir de polo
de ensino dessa denominada ciência política. Encontra-se ao lado das
instituições representativas do Poder Federal sendo, portanto, fácil o acesso dos
estudantes aos materiais relevantes de pesquisa. Em outras palavras, para se
conhecer qualquer assunto relativo aos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, basta se dirigir aos Ministérios e Tribunais, que estão logo ao
lado. Na UNB (Universidade Federal de Brasília), o estudante aprende a teoria
política clássica, a moderna e a contemporânea, baseadas no pensamento de
grandes expoentes tais como Platão, Aristóteles, Maquiavel, Rousseau, Stuart
Mill, entre tantos outros, e os brasileiros Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de
Holanda, Celso Furtado e outros. O aluno lê o regimento interno do Órgão em que
vai operar, examina as leis, e estuda o perfil dos partidos políticos e de seus
representantes.
“Eles vivenciam – in loco – o papel de grupos que constituem a política
nacional e internacional”. Embora no Brasil se fale tanto de reformas
políticas, não vejo ocorrer mudanças substantivas, na prática, e passo a crer
que a localização daquela Universidade não é adequada para que os jovens alunos
obtenham o poli conhecimento.
Lá se ensina e se aprende o quê? Talvez como não se deve fazer política…
Na verdade, entendo, agora, uma das causas das reformas políticas não saírem do
papel. O que precisamos, urgentemente, é empreender reformas em nossos
políticos, antes de pensarmos em reformas políticas. Estas últimas, com
certeza, viriam, de forma automática, como que por gravidade, se a política
fosse uma ciência com fatos e aprendizados.
Infelizmente não o é.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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