Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva (*)
O
jornal O Estado publicou em 11/02/2021 (Opinião, p.2) o nosso artigo “O livro
áureo da Covid-19 no Ceará”, logo após uma sequência de denúncias apresentadas
por parlamentares cearenses contra um contrato firmado, com dispensa de
licitação, entre o Governo do Ceará e uma empresa privada, estipulando a
bagatela de mais de meio milhão de reais, tendo por produto final o livro
“Pandemia: a luta contra o Covid-19 no Ceará”, a ser redigido pelo escritor
Lira Neto.
A
obra teria a precípua intenção de narrar os desfechos e consequências da crise
sanitária, social e econômica decorrente da pandemia de Covid-19 no Estado do
Ceará; contudo, a proposição estava acometida de graves óbices que motivariam contestar,
tecnicamente, a feitura de um projeto de pesquisa envolvendo seres, passando ao
largo da apreciação prévia de um Comitê de Ética em Pesquisa (Sistema CEP/Conep)
e da obra ter a previsão de vir a público em junho deste ano, quando o Ceará se
encontrava ainda no auge da segunda onda do novo coronavírus, com a introdução
de variantes virais, e do empenho oficial do Governo local para a obtenção de
vacinas a aplicar na população aqui residente.
A
quantia acima citada, além de exorbitante para um projeto único, se destinada a
um Edital ou Chamada Pública, gerido pela Fundação Cearense de Amparo ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), com a temática específica da
Covid-19, seria suficiente para financiar, talvez, uma dezena de projetos de
pesquisas, redundando em trabalhos científicos, metodologicamente consistentes,
e em formação de recursos humanos engajados com bolsas de pesquisas.
Nessa
época do tal distrato, com a subsequente suspensão das parcelas vincendas e
vinculadas à condução do projeto, houve um leve ensaio positivo na comunidade
acadêmica, notadamente entre docentes e pesquisadores dos Programas de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva e dos de Políticas Públicas funcionantes no
Ceará, animados com a expectativa de canalizar o empenho intelectual, para
lidar com tão ingente problema de saúde pública, dignificando o compromisso
social dos pesquisadores e sanitaristas cearenses.
Infelizmente,
o cogitado Edital específico não foi lançado, tolhendo o apoio à realização de
estudos que monitorassem, em tempo real, a marcha da pandemia entre nós.
Ressalte-se que, independentemente dessa lacuna, houve um acúmulo de produção
de dados, mantidos em arquivos de pesquisadores que, por meio de aportes financeiros
suplementares, poderiam escoar na forma de artigos, capítulos e livros, e assim
ajudariam a ter uma melhor compreensão do que foi e tem sido a Covid-19 no
Ceará.
Com
a palavra o Governo do Ceará e a sua Funcap.
(*) Professor titular de Saúde
Pública-Uece
*Publicado In: O Estado. Fortaleza, 10 de novembro de 2021. Opinião. p.2.
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