sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Crônica: “Galinhas de onte” ... e outros causos

Galinhas de onte

Meninos em São Gerardo, fazíamos no quintal de casa um guisado que nem cachorro comia - porque não sobrava. O prato principal: as sobras aproveitáveis da galinha caipira que mamãe preparava pro almoço. Do que seria rebolado no mato, vísceras descartadas, entendam-se as tripas da penosa. Que a gente "virava" com palito de coqueiro, lavava bem lavadinhas e mergulhava no limão. Daqui papôco estava ao nosso dispor o dicumê mais gabaritado do mundo. Na panelinha de barro, fogo à lenha de tarisca de pau, uma boia de deixar o sujeito "interado" até quando o dia amanhecesse; claro, com uma coisinha de arroz pra fazer volume.

E num desses domingos do nosso povo reunido no sítio Sossego, em Pacajus, pra celebrar o aniversário de casamento de seu Zé e dona Tereza (meus pais)? Haja galinha de capoeira como "refeição substancial". Umas quatro ou cinco sangradas por motivo justíssimo. Faltando meia hora pra "comidoria" ser servida (a cuia de farinha enorme já ouvindo a conversa no centro da mesa), mamãe pergunta se eu gosto de pé de galinha. Falei que sim, desatento a prováveis surpresas. Com pouco, lá se vem ela com meu prato já feito: feijão bastante no fundo, cobertura de arroz e farinha e, espalhados na superfície, oito pés de galinha escoteiros, com algum caldo pra disfarçar. E era pra ser feliz!

O malandro, o mucunzá e a galinha

Conta-nos o inoxidável amigo Giovani Oliveira que um malandro do Prado (na sua querida Iguatu) tomou porre medonho de cana, tirando o gosto com mucunzá. Não se sabe quantas lapadas entornou, mas uma panela de mucunzá foi-se embora nessa brincadeira. Pela madrugada, o sujeito começou a passar mal. A mulher, muito zelosa, levou-o ao posto de saúde. Lá chegando, estava de plantão o conhecido Dr. Mendonça. A mulher, aflita, dirigiu-se ao médico:

- Doutor, salve o pobre do meu marido pelo amor de Deus!

- O que andou comendo?

- Uma galinhazinha caipira...

Nesse momento, o bebim vomita, exalando forte cheiro da pôde no recinto. O milho do mucunzá vem em seguida. O médico se senta, colocando a mão no nariz. A consorte do paciente melado, apavorada, pergunta:

- O senhor não vai fazer nada?

- Minha senhora, eu estou esperando que ele vomite o milho. Quando chegar na galinha, não se preocupe, eu tomarei as devidas providências.

A festa da galinha

O preclaro Stepherson Macedo Jereissati de Queiroz (carinhosamente "Paraíba") costuma comemorar a mudança de calendário dos amigos em sua residência. É a alegria maior dele. No caderninho dos "aniversariantes do peito", cada dia tem um. Festa grande, todo amigo é merecedor de honrosas celebrações. Mas, naquele sábado, por um lapso de memória, quiçá, ninguém "interava ano". Ainda fez ligações, nada. Amigos é que não podiam deixar de estar em sua casa para comemorar um parabéns. Chamou a mãe, contou da infeliz notícia e propôs:

- O jeito é comemorar o aniversário da nossa galinha (criada no quintal)! Não pode é passar em branco dia assim tão convidativo!

- Tá certo, Osmilton. Vou banhar ela e arrumar tudo!

Por volta da meia noite (festança começou antes do meio dia), faltou tira-gosto. E os convivas todos com fome. E aí? Nova proposta de Paraíba à mãezinha já cansada.

- É o jeito, mãe! Vamos sacrificar a aniversariante!...

Fonte: O POVO, de 15/10/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos

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