Por Valdester
Cavalcante Pinto Jr. (*)
A morte é uma quimera: porque, enquanto eu
existo, ela não existe; e, quando ela existe, eu já não existo. Epicuro
O transplante tem o poder de devolver a
saúde por via da substituição de órgãos àqueles com doenças potencialmente
fatais. Sua prática, porém, é limitada por escassez de doadores de órgãos
adequados.
Na Europa, são 14 mil pacientes na lista de
espera, mais de 110 mil nos EUA e 59.958 no Brasil. Nos EUA, 17 pessoas morrem
todos os dias à espera de um transplante.
No Brasil, a necessidade estimada de
transplantes é 38.787, tendo sido realizados 24.882, em 2023, défice de 35,8%.
As notificações de potenciais doadores estão em 69,3 pmp e apenas 19,9 pmp são
efetivados. 42% dos não efetivados foram pela recusa da família. Tomando como
exemplo o transplante cardíaco, são efetivados apenas 2.1 pmp, quando o ideal
seria 8 pmp.
É fundamental, portanto, transferir à
sociedade informações sobre a importância do ato de doar e a influência deste
na vida daquele que recebe - desenvolver a cultura de doar.
Ademais, otimizar a preservação dos órgãos
aumenta o tempo de viabilidade de sua função, e melhorar a logística de
captação diminui o tempo de isquemia do órgão, ensejando, dessa maneira, a
utilização de doações em maiores distâncias. Já a destinação de órgãos de
doadores continua sendo um dilema ético, não havendo consenso sobre o que
constitui um sistema justo. Há uma tensão entre os princípios de alocação para
favorecer os mais desfavorecidos, o que está conectado ao valor da equidade, e
de maximizar os benefícios totais, situação ligada ao valor da utilidade.
Políticas públicas devem ser direcionadas
por valores éticos que privilegiem a universalidade na atenção. Com efeito, é
necessário melhorar o acesso para avaliação e indicação de transplante,
aumentar o número de doadores efetivos e destinar os órgãos àqueles em estado
mais grave, esperando há mais tempo, e que tenham as melhores chances de uma
vida extensa e saudável após o transplante.
Eis o dilema no centro da discussão sobre a
ética na distribuição de órgãos de doadores: alcançar o equilíbrio entre
eficiência e equidade, ou entre utilidade e justiça?
(*) Médico
cirurgião cardiovascular pediátrico.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 16/09/2024. Opinião. p.22.
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