segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Mulheres das periferias caririenses garantem renda nas campanhas eleitorais

Por Fabiana Arrais (*)

Conforme dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024), no segundo trimestre de 2024 o Brasil quantificou 7,4 milhões de pessoas desocupadas. É importante destacar que as consequências deste cenário socioeconômico são rigorosas para as mulheres e, mais ainda para as mulheres negras seja no campo da oferta de trabalho, como na questão salarial.

Para a pesquisadora e professora da Unicamp Dra. Marilane Teixeira (2024) "[...] os piores indicadores, desemprego, subutilização, e taxa de ocupação sempre estão entre as mulheres". No curso desta afirmativa vê-se no primeiro momento uma estagnação das possibilidades de inserção da mulher no mercado de trabalho formal, e posteriormente o aumento da demanda pela informalidade consolidando o cenário de trabalho precarizado e ausência de garantias trabalhistas.

O período eleitoral é tempo em que uma quantidade considerável de mulheres caririenses das periferias conseguem uma renda, ainda que pequena, para ajudar a suprir as necessidades básicas da família.

Espalhadas pelas praças e esquinas onde o trânsito de carros e pedestres se faz mais intenso, essas mulheres cumprem rigorosamente o ritual das "bandeirinhas". Vestindo camisetas nas cores do partido e com bandeiras em punho se reúnem às 8:00h da manhã nos locais determinados, e permanecem até as 17h (com direito a 1hora de almoço).

Percorrendo os dois grandes colégios eleitorais do Cariri (Crato e Juazeiro do Norte) torna-se evidente que a questão de ser porta-bandeira não se reduz a uma fidelização partidária. Algumas mulheres que naqueles espaços agitam suas bandeiras ao vento, com sol e temperatura de 37º C aguardam a primeira quinzena de trabalho para receberem o equivalente a R$ 500,00 reais.

É facílimo a inserção destas mulheres neste trabalho, pois alguns pontos escolhidos pelas equipes dos diversos partidos ficam próximos das periferias, ou estão nas periferias. Dessa maneira, a proximidade da residência com a ocupação momentânea proporciona um custo-benefício, como bem afirmou Maria das Dores: "trabalho quase na porta de casa, venho a pé pela rua e volto no horário de almoço para ver as crianças que ficam com a minha mãe. [...] A bandeira não é tão pesada, mas também o dinheiro que paga só dá para segurar isso!".

(*) Economista.

Fonte: O Povo, de 27/09/24. Opinião. p.19.

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