Por Cláudio Ribeiro (*)
Dom Manuel Edmilson da Cruz fará 100 anos no
dia 3 de outubro próximo. Com uma vida inspiradora e a memória admirável, mesmo
que o tempo lhe cobre a fragilidade física
"Diz-me o que sabes e te direi quem és". Dom Manuel
Edmilson da Cruz, arcebispo emérito de Limoeiro do Norte, gosta de lançar a
frase como referência. Talvez como uma oração. Citou-a três vezes em quase duas
horas de entrevista. É criação sua? "Foi Deus que me deu", divide a
autoria.
É um dito que usa quando lhe perguntam e se impressionam por sua
lucidez e disposição, por ele estar prestes a se tornar um centenário. São 99
anos e cinco meses de uma vida inspiradora. Em 3 de outubro próximo, completará
os 100 — como inclusive o fizeram alguns de seus irmãos. Hoje, dom Edmilson é o
bispo mais idoso da Igreja Católica no Brasil.
O pensamento dele é claro, completo, cheio de lances detalhados
de uma memória privilegiada. Um sacerdote que foi voz altiva em defesa de
perseguidos, pobres, desamparados. A mente ainda ferve, relembra, se posiciona,
mas a voz e o corpo agora são mais fragilizados.
A cervical se dobra numa escoliose acentuada, as frases se
encurtam, às vezes inaudíveis. A bengala, os estudos e as orações lhe dão o
suporte. Ele ainda está ali, cruzando o tempo, reforçando convicções, bancando
pontos de vista. As ideias que se construíram em um século de vida ainda se
sustentam e são consideradas. A limitação é apenas física.
Dom Edmilson ainda gostaria de viajar: "Se eu pudesse,
viajaria. Porque gostaria de ver alguma coisa no mundo ainda. E olhe que eu já
andei muito". Conviveu com seis dos sete arcebispos de Fortaleza, foi
refém num sequestro 30 anos atrás ao lado do amigo dom Aloísio Lorscheider,
peitou militares que cercaram uma missa sua em plena ditadura, escreveu,
ensinou, ainda aprende.
Hoje, o bispo descansa muito menos do que sua idade
recomendaria. Gosta de orar, ler (em mais de um idioma), estudar, ainda celebra
missa diariamente, recebe e faz visitas quando pode. Mantém a jovialidade que
as idades cronológica e a do corpo lhe permitem. Segue inquieto e produzindo:
quer lançar um livro no dia do aniversário.
O POVO - O que o senhor tem pensado sobre estar prestes a
completar 100 anos de vida?
Dom Edmilson da Cruz - Antes de mais nada, vou dizer uma coisa
importante: "Diz-me o que sabes e te direi quem és". É o saber
verdadeiro. Não é o saber acadêmico somente. Mas você quer saber mais da minha
vida? Eu nasci em Aranaú (distrito de Acaraú, a 233,5 km de Fortaleza). Nasci
em 1924. Com quatro anos e meio, meu pai me trouxe para a sede do município de
Acaraú. Meus primeiros professores foram meu pai (João Batista da Cruz) e minha
mãe (Luíza Ferreira da Cruz). Professores e formadores.
OP - Eles eram praticantes na religião?
D. Edmilson - No começo ele (pai) não tinha tanta (devoção), ela
(mãe) era mais. Ele era religioso. Era um poeta. Mas fui crescendo, a minha
formação era em casa. Tive professoras por pouco tempo. Depois chegou um grupo
escolar. Eu atuava como coroinha nas horas livres. Acompanhava o padre nas
viagens às capelas.
OP - Quem era o padre?
Dom Edmilson - Monsenhor Sabino de Lima Feijão.
OP - O senhor tinha quantos irmãos?
Dom Edmilson - Lá em casa somos duas famílias de duas irmãs
(Vicência e Luíza). Quando morreu a tia Vicência, mãe dos sete primeiros
filhos, ela tinha dito à irmã "você vai se casar e cuidar deles
(filhos)".
OP - Sua mãe, Luíza, casou com o marido da irmã, a Vicência,
depois que ela morreu. A Vicência teve sete filhos. Sua mãe teve quantos?
Dom Edmilson - Cinco. Eu sou o do meio. Éramos ao mesmo tempo
irmãos e primos.
OP - E só o senhor seguiu na vida religiosa?
Dom Edmilson - Nenhum padre nem freira. Mas tive uma irmã que
tinha uma coisa extraordinária, a capacidade de aconselhar. Era uma pessoa
piedosa, a mais meiga das minhas irmãs. O nome dela era Tereza Carmelita da
Cruz Gadelha.
OP - Mas ainda queria saber se o senhor reflete sobre sua
condição de ser uma pessoa centenária. O que o senhor pensa sobre chegar aos
100 anos?
Dom Edmilson - Eu penso que é um privilégio que eu não merecia e
Deus me concedeu isso. Acho que não merecia. Mas o Pai do céu me concedeu. É
interessante que essa minha velhice não para, no sentido de que ainda tenho
mais o que aprender. Cada dia é um estudo e cada dia aprendo. Eu entendo cinco
línguas, estou estudando alemão. Eu aprendo depressa.
OP - O senhor é uma pessoa com 100 anos que ainda está
aprendendo e produzindo.
Dom Edmilson - Deus Nosso Senhor me deu essa graça de continuar
crescendo. Não existe vaidade. "Diz-me o que sabes e te direi quem
és". A maior parte da minha vida hoje, do meu dia, é oração. Oração
silenciosa, oração com os outros, oração da missa, oração na manhã, no meio-dia
e na noite. Além disso, a mentalidade aberta para que eu possa aprender e
transmitir aos outros. Do jeito que vou, chego aos 100 no próximo dia 3 de
outubro. Minha irmã Vicência completou 100, passou de 100. Meu irmão José
morreu faltando dois meses para completar 100. Minha irmã Maria Abigail passou
de 100. Todos já foram para a eternidade.
OP - Qual é a sua rotina de leitura?
Dom Edmilson - Leio todo santo dia. E leio em várias línguas.
Para não perder, senão a gente esquece. Em português, latim. Podia ler em
grego, mas perdi o hábito. Espanhol, inglês, italiano. O alemão, tô aprendendo.
Não sei se posso dizer que falo, porque certa vez estava na França, falando em
francês, aí disse uma frase e me corrigiram. Eu disse um francês lido. Então
quer dizer que falar não é a mesma coisa que ler.
OP - O senhor se incomoda quando falam ou lhe pedem para falar
sobre sua idade?
Dom Edmilson - Não é uma coisa que eu faça força para chegar.
Chego porque Papai do céu está mandando. E eu agradeço. Mas eu faço a minha
parte também, já que estou nas condições.
OP - O senhor tem seus cuidados próprios? Alimentação no
horário, boas horas de sono, medicação?
Dom Edmilson - Eu tenho cuidados. É um dever nosso, de cada um
de nós. É um instinto também, de autodefesa da vida. Todo santo dia eu faço
massagem no joelho. Isso é importantíssimo. Outra coisa é a massagem na cabeça
(faz o gesto), no cabelo. A meu ver isso evita muita coisa. Outra importante é
não tomar água logo antes, durante ou logo após as refeições. Durmo muito bem.
No momento eu saí do meu esquema — mas vou voltar —, de dormir cedo, antes das
dez da noite. Porque estou muito extravagante nos últimos tempos. O ideal são
oito horas de trabalho, oito horas de oração e oito horas de sono.
OP - O senhor faz questão de manter essa atividade toda?
Dom Edmilson - Me poupar, eu me poupo, sim. É uma exigência da
idade e ao mesmo tempo porque eu estou na situação de doar o trabalho marcado
para mim. Estou bem livre neste ponto.
OP - O senhor sempre teve posições muito firmes, desde a época
da ditadura militar. Naquela época, em algum momento o senhor esteve prestes a
ser preso por alguma atitude que tomou?
Dom Edmilson - Quem foi preso foi dom Aloísio Lorscheider
(arcebispo de Fortaleza de 1973 a 1995). Não fui preso, mas houve ocasiões de
luta contra a ditadura da minha parte. Numa delas, no dia da vitória pelas
Eleições Diretas (1984), eu fui celebrar na igreja da Conceição, no Maranhão,
estava cheinha de soldados e eu chamei atenção para o fato. "Não precisa
desses soldados. Mandem levá-los para o campo de batalha". Eu disse que
aquilo poderia responsabilizar até o presidente da República pela situação. Aí
o capitão do Exército disse: "O senhor não falou sobre a palavra de Deus.
Mas eu vou atender seu pedido". Quando eu terminei a missa, eles saíram
todos. Quando vou saindo, com um padre ao meu lado, deram a segurança. Um
companheiro que ficou celebrando.
OP - Mas quiseram lhe prender?
Dom Edmilson - Eu não sei se quiseram me prender. Só sei que o
coronel Liége, quando me chamou para participar de algumas celebrações, me
tratava sempre com muito respeito, mas ele fotografava a minha pessoa.
OP - Durante a missa?
Dom Edmilson - Fora da missa. Não sei qual era a intenção dele.
OP - O senhor completou 75 anos de sacerdócio, da primeira
ordenação. E foi contemporâneo ou conviveu com seis dos sete arcebispos de
Fortaleza. É uma marca sua.
Dom Edmilson - Um conviver que não é estar presente. Quando eu
estive uma vez só com dom Antônio de Almeida Lustosa (arcebispo de 1941 a
1963), eu era professor do seminário e ele era uma pessoa muito distinta,
trabalhava em pé. Ele era um cientista também. Era muito sábio. Ele não ia a
essas reuniões comunitárias, consagrações importantes, ligadas a momentos
históricos.
Era um homem muito metódico, muito santo. Comunicava-se muito
bem, escritor de primeira qualidade, poeta. Me encontrei com ele em celebrações
na capela do Pequeno Grande (Colégio da Imaculada Conceição, no Centro). Nesse
tempo eu deveria ter uns 18 anos. Estava no seminário da Prainha. Fiquei
admirado a primeira vez. O bispo dom José Tupinambá da Frota (ex-bispo de
Sobral), um homem muito inteligente, mas por qualquer coisa ele dava um
esbregue danado (faz gestos e caretas como se imitasse uma bronca de dom José
Tupinambá).
OP - E dom Antônio de Almeida Lustosa era tranquilo?
Dom Edmilson - Exatamente aonde quero chegar, dom Antônio. A
primeira vez que participei como seminarista numa missa na capela do Pequeno
Grande, na hora caiu uma brasa, ele disse "cuidado para não queimar o
tapete". Se fosse em Sobral teria sido… (dá uma risada comparando com
possível atitude de dom José Tupinambá).
OP - Dom Antônio de Almeida Lustosa hoje já é venerável, a um
passo da beatificação.
Dom Edmilson - Falta tempo ainda. Tem uma caminhada grande aí.
Isso vai depender da constatação oficial de um milagre.
OP - Do que o senhor o conheceu, era uma pessoa que tinha o dom
de um milagre?
Dom Edmilson - Aquele homem era um santo mesmo.
OP - O senhor poderia falar um pouco de cada arcebispo que
conviveu na Arquidiocese de Fortaleza?
Dom Edmilson - Chamar atenção de uma história. Eu estava no
curso de Filosofia no Seminário da Prainha e dom Manoel da Silva Gomes (bispo
de 1912 a 1915 e se tornou o primeiro arcebispo, permanecendo até 1941), ao
renunciar, resolveu voltar a Salvador. Lá, não tinha mais nenhum amigo vivo e
ele resolveu voltar para o Ceará.
OP - Dom José de Medeiros Delgado, o segundo a ocupar o cargo
(de 1963 a 1973), o senhor conviveu diretamente?
Dom Edmilson - Convivi muito. Ele era do Maranhão. Foi ele que
fundou a Universidade do Maranhão. (De 1966 a 1974, dom Edmilson foi bispo
auxiliar de dom João José da Mota e Albuquerque, na arquidiocese de São Luís).
OP - Com dom Aloísio Lorscheider o senhor conviveu 22 anos. Foi
o seu maior amigo dentro da igreja?
Dom Edmilson - Esta é uma pergunta difícil. É porque eu me sinto
uma pessoa que tem muitos amigos.
OP - O senhor acha que teve uma linha de atuação muito parecida
com a dele?
Dom Edmilson - Bom, dom Aloísio era muito competente e me
influenciou. Foi uma convivência que não tem nenhum momento de amargura.
Nenhum, nenhum. Tem momentos difíceis como aquele sequestro lá do presídio IPPS
(Instituto Penal Paulo Sarasate, em 15 de março de 1994, quando ambos estavam
entre 13 pessoas que viraram reféns).
Naquele momento, dom Aloísio estava sentado numa poltrona no
auditório. Ele ficou amarrado na cadeira por arame farpado. E os sequestradores
exigindo a pressa para saírem, garantindo que em tal lugar deixariam dom
Aloísio. Um deles disse "se não nos atenderem, se preparem para o
churrasco".
OP - O senhor teve medo da morte naquele momento?
Dom Edmilson - Para falar a verdade, nunca pensei que fosse
morrer ali, não. Eu podia estar com medo na hora, mas nunca pensei que fosse
morrer. No dia seguinte, quando a Polícia me trouxe, me deixou aqui, minha irmã
Terezinha, que era enfermeira, ela mediu minha pressão. Estava 12 por 4.
OP - Foi uma tensão grande, um refém amarrado numa cadeira com
arame farpado…
Dom Edmilson - Aquilo fazia a gente duvidar. Mas o que mais
admirei em dom Aloísio foi no dia em que ele foi lá onde eles (sequestradores)
estavam (de volta ao presídio) para perdoar (na cerimônia do lavapés, no mês
seguinte ao sequestro).
OP - E sobre dom Cláudio Hummes (arcebispo de 1996 a 1998)?
Dom Edmilson - Ele era um amigo pessoal. Ele tinha muito
respeito a mim e eu a ele. Pouca gente sabe, dom Cláudio esteve em visita à
região amazônica. Ele viu toda aquela situação e levou para o santo padre, que
depois do Sínodo dos Bispos costumava sempre dar uma orientação apostólica
sobre o assunto. No caso, ele não deu. Ele deu foi uma oração, coisa muito
bonita, citando a situação da Amazônia. E isso motivou todo esse empenho que
está havendo não só no Brasil, mas nas Nações Unidas para a conservação do
planeta.
OP - E de dom José Antônio Aparecido Tosi (de 1999 a 2023),
agora arcebispo emérito de Fortaleza?
Dom Edmilson - Eu nunca esqueço de uma coisa. Ontem ele veio me
visitar. Eu tinha chegado aqui fazia pouco tempo, fomos passar uns dias de
repouso numa praia. Quando cheguei lá, para minha surpresa, ele pegou minha
bagagem para me ajudar. "Não precisa, arcebispo". Isso é um gesto
muito bonito, de humildade de um arcebispo. É um homem muito organizado. As
paróquias todas muito pensadas, bem divididas.
OP - Ele é mais reservado.
Dom Edmilson - Não é bem isso. Reservado ele é, mas muito
prudente, inteligente e preparado. E canta muito bem.
OP - O que o senhor tem de expectativas em relação a dom
Gregório Paixão, novo arcebispo de Fortaleza? Ele lhe citou três vezes no
discurso de posse (em 15 de dezembro de 2023).
Dom Edmilson - Eu achei aquele gesto tão interessante. Falei com
ele, gostei muito dele. Muito simpático e muito competente. A expectativa é
daqui pra melhor. Mas cada arcebispo tem o seu mérito próprio.
OP - O senhor lembra da sua infância, de como se interessou pela
vida religiosa?
Dom Edmilson - Lembro. É uma vocação, nasceu comigo. Uma vez no
meu aniversário lá em casa, eu já era padre, falando sobre esse assunto, fui voltando
a idade. No tempo dos estudos médios, científicos, pensava muito em grandeza
literária, em ser um grande poeta.
OP - Antes de se tornar padre, de seguir sua vocação, o senhor
pensava em alguma profissão?
Dom Edmilson - Vocação não é profissão. Nunca defini uma
profissão. Em ser professor era uma coisa que fazia natural, que veio com a
vocação. Ensinei muita coisa. Latim, francês, ensinei inglês. Isso eu estava
com uns 26 anos.
OP - Voltando mais um pouco ainda, o senhor lembra quando foi a
primeira vez que disse que ia ser padre?
Dom Edmilson - No dia que eu fui confirmado como bispo, lá em
Sobral, eu disse que minha vocação era ser padre. Se eu nascesse 50 mil vezes,
50 mil vezes queria ser padre. Isso está na minha alma. É uma coisa que eu
tenho como um dom de Deus.
OP - Dez anos atrás, em entrevista ao O POVO, o senhor falou
aqui na sua casa…
Dom Edmilson - A casa não é minha. Não tenho casa nem
transporte. E nunca me faltou casa nem transporte (risos).
É a idade mais feliz da minha vida. As idades atuais são sempre
as mais felizes. A idade é a atual, que não é a mais gostosa. Porque há coisas
que fazem a pessoa sofrer. Os limites físicos. Os limites de comunicação. Não
tenho a possibilidade de viajar, por exemplo.
OP - O senhor ainda sente hoje a vontade de viajar?
Dom Edmilson - Se eu pudesse, viajaria. Porque gostaria de ver
alguma coisa no mundo ainda. E olhe que eu já andei muito.
OP - O senhor hoje entende mais os seus limites? É muito mais
difícil estar fisicamente num local?
Dom Edmilson - Eu diria que mais do que perceber, eu sinto. Mas
pra mim não é uma limitação. Faz parte da vida. É o curso natural da vida. Pra
mim isso é um ponto de referência para a eternidade. Para conhecer que o melhor
está chegando.
OP - Tem algum momento que o senhor sofre ou se sente chateado
por essa limitação?
Dom Edmilson - Não. Eu acho isso uma consequência da caminhada
humana. Isso faz parte da observação da vida, da oração, de ouvir os outros.
OP - O que o senhor, que é sempre disposto e jovem nas atitudes,
diz sobre o envelhecimento mental, que é muito pior que o físico?
Dom Edmilson - Eu diria que ela não se considere infeliz, são
partes do processo da vida. Isso é caminho para uma plenitude de vida.
OP - Felicidade é muito difícil de ser alcançada? É mais
elaboração do que conquista?
Dom Edmilson - Depende da pessoa. Há as pessoas que são muito
fantasistas, inventam muita coisa, sem fundamento nenhum. Em vez de coisas
complexas, são variáveis.
OP - O senhor está com projetos em andamento. Soube de um livro.
Dom Edmilson - Tenho mais de um livro escrito já. E minha parte
poética pretendo publicar quando completar 100 anos. Vai se chamar "Ritmo
Pascal". Através das poesias, em ritmo de Páscoa, pretendo mostrar o
caminhar para a plenitude. São umas 90 poesias.
OP - O senhor se acha uma pessoa fora do padrão, pela memória
privilegiada, por ainda estar produzindo nessa idade? Ou estou sendo etarista?
Dom Edmilson - É apenas a ocasião de fazer o que se é pra fazer.
É da parte de Deus. Cada um tem o seu privilégio, você também tem o seu. Repito
o que disse: "Diz-me o que sabes e te direi quem és".
OP - Essa frase é sua?
Dom Edmilson - Deus me deu.
OP - O senhor é um dos bispos mais idosos da Igreja Católica no
Brasil?
Dom Edmilson - Sou o mais idoso. Sou o decano. O mais velho da
Igreja Católica. No Brasil, sim.
OP - Sobre o papa Francisco, que se mostra sempre com posições e
decisões vanguardistas para a linha da Igreja, o que o senhor tem a dizer?
Dom Edmilson - É Deus que dirige a Igreja. Mas esse papa tem atitudes
que chamam a atenção. Quando ele, por exemplo, se comunica com o povo, quando
ele partilha, quando vai visitar prisões, toma um preso nos braços, são gestos
que um papa não fazia antes. Ele faz. Mostra muito bem como ele nos transmite a
imagem de Jesus Cristo ao fazer essas coisas. E a palavra de Deus é inspirada.
Pode notar que aquela palavra tem um conteúdo que é positivo. E mesmo quando é
alguma coisa negativa, ele leva para o lado positivo em primeiro lugar. Isso
não é muito comum, não. Ele hoje caminha com a bengala, sofre com o joelho.
Porque não faz o que eu faço.
OP - É elogiável que o senhor, nessa idade, ainda faz planos,
tem projetos.
Dom Edmilson - Mas projetos tranquilos. Quanto a viver, estou
nas mãos de Deus.
(*) Jornalista de O Povo.
Fonte: O Povo, de 3/03/2024.
Páginas Azuis. p.4-5.
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