segunda-feira, 13 de maio de 2024

A PRODUTIVIDADE NO BRASIL: fatores atuais e perspectivas

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

O economista Paul Krugman cravou uma frase bastante conhecida no meio dos economistas: "No curto prazo, a produtividade do trabalho não é nada. No longo prazo, é tudo". A produtividade do trabalho é definida como o produto interno bruto (PIB) real por hora trabalhada. Essa fórmula capta melhor a utilização de fatores de trabalho do que apenas a produção por trabalhador, sendo o fator de trabalho definido como o total de horas trabalhadas por todas as pessoas envolvidas. Os dados são obtidos como a média de horas trabalhadas multiplicada pela medida correspondente e consistente de emprego para cada país específico. A previsão baseia-se numa avaliação do clima econômico em cada país e na economia mundial, utilizando uma combinação de análises baseadas em modelos e pareceres de peritos. Em síntese, a produtividade de um trabalhador é sua capacidade de produzir mais com menos recursos. Na prática, significa otimizar o trabalho e entregar mais resultados com menor esforço – em menos tempo.

Os mercados de trabalho têm demonstrado uma resiliência surpreendente, apesar da deterioração das condições econômicas. No entanto, a recuperação da pandemia continua a ser desigual, uma vez que as novas vulnerabilidades e as múltiplas crises comprometem as perspectivas de mais justiça social, de acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ((https://encurtador.com.br/qBH38). Segundo o estudo da OIT, no período entre 2015 e 2023, a produtividade do trabalho no Brasil avançou 0,1% ao ano, enquanto recuou 1,7% anuais na Argentina e 0,4% no México, por exemplo. A queda média na região da América latina e Caribe foi de 0,5% ao ano no período. Apesar de ganhar na América Latina, o Brasil fica bem abaixo dos Estados Unidos, que cresceu a 1% e do Canadá, que cresceu na média 0,4%.

As transformações estruturais e sistêmicas, econômicas e institucionais precisam fazer parte da agenda diária, como é o caso da reforma tributária, para que o país saia da prisão da "armadilha da renda média", em que o baixo dinamismo produtivo e o envelhecimento populacional induzem o acirramento de conflitos distributivos e impõem novas pressões sobre um Estado, com dificuldades crescentes para se financiar e executar políticas públicas.

Sem caracterizar um clichê, há um ciclo virtuoso entre produtividade e inclusão, que inclui também a sustentabilidade. Uma economia mais produtiva usa menos recursos. No caso do Brasil, isso significa reduzir o desmatamento, que atualmente é a principal contribuição do país para as mudanças climáticas.

Para promover o crescimento inclusivo e sustentável, existem pelo menos seis áreas críticas para a reforma: (1) aumentar a produtividade no setor privado, para impulsionar o crescimento de uma forma ambientalmente sustentável; (2) preparar o sistema educacional brasileiro, para diminuir a lacuna entre habilidades e empregos; (3i) reforçar a pertinência e a sustentabilidade dos sistemas de proteção social para os desafios futuros; (4) remodelar o espaço limitado da política orçamentária de hoje, em consonância com as prioridades a longo prazo; (5) melhorar o acesso aos serviços de infraestrutura; e (6) construir um sistema tributário mais equitativo e eficiente. As reformas só podem ser empreendidas se forem suficientemente apoiadas pela sociedade brasileira. Isso requer fortalecer o contrato social do Brasil, para fornecer a confiança necessária de que as reformas beneficiarão a todos no longo prazo.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 4/04/24. Opinião. p.21.

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