Por Dom
Gregório Ben Lâmed Paixão (*)
A palavra Páscoa tem sua origem na língua hebraica (Pessach),
que significa passagem. Ela recorda a proeza do Eterno, ao libertar os hebreus
da escravidão imposta pelo império egípcio, dando ao povo a alegria de caminhar
para uma terra que lhe fora prometida, livres de toda opressão.
Para os cristãos a Páscoa tem o mesmo nome da Pessach judaica,
mas com significado novo: refere-se à ressurreição de Jesus Cristo, celebrada
como memorial de salvação e de passagem da morte para a vida, superando o
sofrimento imposto por aqueles que usaram (e usam) o poder para oprimir,
explorar, entristecer e matar.
Dentre os seguidores de Jesus, uma mulher se destaca no dia da
ressurreição do Mestre: seu nome é Maria Madalena. Conhecida por sua vida
péssima, Madalena carregava a força de sete demônios, segundo a afirmação do
Evangelho narrado por Lucas (Lc 8,2). Sua existência era desumana e suas
atitudes eram diabólicas.
Ela, então, se encontrou com Jesus. Ele resgatou sua alma
dilacerada e entristecida, perdoando os seus pecados e o seu passado,
abençoando o seu presente e abrindo as portas para a sua vida futura, que se
tornou exemplar. A partir daí, Madalena não mais viveu pelos sentidos, mas deu
sentido à sua vida.
Entretanto, a experiência da crucifixão de Jesus foi traumatizante
para Madalena. Seu Rabuni (Mestre) foi morto, restando apenas a dor de uma
separação traumatizante.
Uma pedra fechava o túmulo onde ele estava. Outra pedra esmagara
o coração da discípula. Mas a pedra foi removida; o desespero e as lágrimas foram
substituídos pela esperança de rever Jesus, redivivo.
Caberá a ela avisar aos discípulos a boa nova da ressurreição,
tornando-a apóstola dos apóstolos do Senhor; anunciadora primeira da alegria
pascal.
Maria Madalena nos deu a conhecer a redenção dos que
experimentam o poder regenerativo da misericórdia. Discípula fiel, seu coração
foi alcançado pela graça e pelo perdão divinos.
Ela deixou de procurar sua realização no túmulo de suas ilusões,
afetos desordenados e ressentimentos, recomeçando a partir do Mestre e
manifestando ao mundo a vitória pascal.
Desse modo, Maria renasceu pela força do amor que supera o mal e
cria relações de fraternidade a partir da fé, esperança e caridade
regeneradoras de vidas.
(*) Monge beneditino. Arcebispo metropolitano de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 14/04/2024. Opinião. p.18.
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