Por Maximiliano Ponte
(*)
Não é
no século passado. O ano é 2024. Na entrada de universidades de diferentes
cantos do mundo observam-se ofensas contra os judeus, explícitas ou veladas,
gritadas ou escritas. Na entrada de universidades americanas estudantes e
professores judeus são perseguidos
e hostilizados. No
vestibular (meio de entrada) da Universidade Estadual do Ceará, candidatos são
submetidos à propaganda antissemita. Três questões da prova, tomadas em
conjunto, apresentaram aos jovens a clássica narrativa antissemita, em três
atos.
1º Ato:
Deslegitimização. A questão 27 aborda o êxodo do Egito. Em seu enunciado afirma
que Moysés guiou o povo do Egito para "Palestina". Ocorre que a época
a região era chamada de Canaã. O nome Palestina só foi adotado após a conquista romana, já no século
I. Nomear de "Palestina" a Canãa bíblica, onde atualmente está o
Estado de Israel, é deslegitimizar a ligação espiritual, histórica e
identitária do povo judeu a sua terra ancestral.
2º Ato:
Desumanização. A questão 29 tratava do tema das guerras e em particular da 2ª
guerra mundial. A reposta correta, conforme o gabarito divulgado era que o extermínio de judeus, que ficou conhecido como
holocausto, foi uma medida antieconômica, pois os nazistas perderam a
oportunidade de utilizar a sua mão de obra escrava. Aqui se coisifica os
milhares de judeus e não judeus mortos pela máquina nazista, e os desumaniza.
3º Ato:
Demonização. Para acertar a questão 35, o candidato deveria definir sionismo,
movimento de busca do retorno do povo judeu para sua terra ancestral, como
meramente um movimento expansionista e colonialista israelense. Destaca-se que
o enunciado abordava a guerra atual com o grupo terrorista Hamas, mas obviamente não citava a invasão do território israelense, nem o
assassinato de mais de mil civis, muito menos o sequestro de mais de 100 pessoas, incluindo um bebê!
Desta
forma, na prova apresenta-se a velha narrativa antissemita que deslegitima o
direito do povo judeu ao retorno a sua terra ancestral, desumunamiza seu
sofrimento e demoniza suas ações. Da universidade não espero anulação de
questões, mas sim, desculpas
públicas e
ações no sentido de punir os responsáveis por produzir e autorizar a utilização
de questões claramente antissemitas. Afinal, não podemos esquecer:
antissemitismo é crime!
(*) Judeu. Médico psiquiatra.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/05/2024. Opinião. p.18.
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