Distópico é meus ‘óvico’!
Essa
mundiça, ah esse magote! Eita fulerage grande, essa ruma! Tem jeito não!
Bar
dos Papudim, TV ligada em programa nacionalmente consagrado a entrevistas de
ilustres. Eis que o escritor "de fala engrolada", sentado ao meio de
muitos, bodeja sobre uma tal "distopia". O figurão esclarece solene
que, em geral, nos romances distópicos, as pessoas vivem em uma realidade de
muito sofrimento, baixa qualidade de vida, opressão, totalitarismo.
"Porém, entendo equivocado considerar distópico um mundo só porque existe
sofrimento, não necessariamente é assim", informa o inocente entrevistado.
E
era distópico pra lá, distópico pra cá, distópico a granel... Até que Dedé de
Cabo Justino, o mais professoral entre os colegas de cana dali, pergunta ao
grupo que "cão do mêi dos infernos era a fulerage desse distópico".
Silêncio absoluto entre eles - e a TV ligada no referido programa, a toda
altura. "Hein, negada! Diabeisso? Putaria é essa de distópico? Mozart de
Zulmira, o mais calado, se ergue enfim do tamborete e, com ar de quem estava
cansado daquele papo, pede vênia e dispara trêfego:
-
Distópico é meus óvico!
E
se manda, mordendo uma taiada de limão.
O pão do isprito
Muito
satisfeito com a volta por cima do amigo poeta da Vila União Jair Moraes. Isso
sim é resiliência. Explico: Jair sofreu deveras com a súbita saída, de sua
Banda Marmota, do mega-zabumbeiro Michael Jackson. "Uma perda
semi-quase-irreparável", afirmou na ocasião do ocorrido. Mas, antes de
tudo um fí duma égua, o ilustre "polimúsico" criado no beiço da Lagoa
do Opaia encontrou outro tocador de zabumba, senão melhor, com potencial pra
superar quem lhe antecedeu. É Lampião da Tia Laurinha.
Que,
também compositor, adentra ao grupo que anima as Tapioqueiras nos finais de
semana dando o melhor de si e de sol. Ele o autor de verso lapidar criado
especialmente para uma música que fez, em parceria com Jair, para homenagear a
Padaria Espiritual. Apreciem a beleza poética do zabumbeiro substituto:
"Eu
chupei 40 manga
Comi
um balai de ovo
Saí
cantando na rua
Pisei
em merda de cachorro"
Vida
longa à tua cachorrinha Marreta, ao Lampião e ao povo todo de casa, Jair! Tu é
único, macho véi!
O homem que papocou do papoco
Luiz
de Totonho tinha a mercearia mais sortida no Serrote do Gusmão. 47 anos
incompletos e o nobre comerciante há pouco "morreu de trevessa", quer
dizer, do que não aconteceu de vera pra matar um, mas que determinou a causa
mortis "bem morridas". Traduzindo: Luiz papocou duma coisa que não
existiu em si, e que nem de longe passou raspando. Ou seja, ele bateu o catolé
do susto daquilo lá.
Por
outras, estava ele, por volta das 17 horas, nos preparativos pra cerrar as
portas do estabelecimento, quando dois fregueses raivosos abrem discussão por
motivo fútil e um deles, sacando a arma, dispara, no interior da bodega de Luiz
de Totonho, acertando a esmo o telhado. Luiz, o saudoso Luiz que só obrava na
madrugada com a luz do celular acesa, contava o dinheiro apurado do dia,
tomando tão medonho susto que morreu de repente, deixando uma namorada.
Fonte: O POVO, de 5/04/2024. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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