sexta-feira, 24 de maio de 2024

Crônica: “Distópico é meus ‘óvico’!” ... e outros causos

Distópico é meus ‘óvico’!

Essa mundiça, ah esse magote! Eita fulerage grande, essa ruma! Tem jeito não!

Bar dos Papudim, TV ligada em programa nacionalmente consagrado a entrevistas de ilustres. Eis que o escritor "de fala engrolada", sentado ao meio de muitos, bodeja sobre uma tal "distopia". O figurão esclarece solene que, em geral, nos romances distópicos, as pessoas vivem em uma realidade de muito sofrimento, baixa qualidade de vida, opressão, totalitarismo. "Porém, entendo equivocado considerar distópico um mundo só porque existe sofrimento, não necessariamente é assim", informa o inocente entrevistado.

E era distópico pra lá, distópico pra cá, distópico a granel... Até que Dedé de Cabo Justino, o mais professoral entre os colegas de cana dali, pergunta ao grupo que "cão do mêi dos infernos era a fulerage desse distópico". Silêncio absoluto entre eles - e a TV ligada no referido programa, a toda altura. "Hein, negada! Diabeisso? Putaria é essa de distópico? Mozart de Zulmira, o mais calado, se ergue enfim do tamborete e, com ar de quem estava cansado daquele papo, pede vênia e dispara trêfego:

- Distópico é meus óvico!

E se manda, mordendo uma taiada de limão.

O pão do isprito

Muito satisfeito com a volta por cima do amigo poeta da Vila União Jair Moraes. Isso sim é resiliência. Explico: Jair sofreu deveras com a súbita saída, de sua Banda Marmota, do mega-zabumbeiro Michael Jackson. "Uma perda semi-quase-irreparável", afirmou na ocasião do ocorrido. Mas, antes de tudo um fí duma égua, o ilustre "polimúsico" criado no beiço da Lagoa do Opaia encontrou outro tocador de zabumba, senão melhor, com potencial pra superar quem lhe antecedeu. É Lampião da Tia Laurinha.

Que, também compositor, adentra ao grupo que anima as Tapioqueiras nos finais de semana dando o melhor de si e de sol. Ele o autor de verso lapidar criado especialmente para uma música que fez, em parceria com Jair, para homenagear a Padaria Espiritual. Apreciem a beleza poética do zabumbeiro substituto:

"Eu chupei 40 manga

Comi um balai de ovo

Saí cantando na rua

Pisei em merda de cachorro"

Vida longa à tua cachorrinha Marreta, ao Lampião e ao povo todo de casa, Jair! Tu é único, macho véi!

O homem que papocou do papoco

Luiz de Totonho tinha a mercearia mais sortida no Serrote do Gusmão. 47 anos incompletos e o nobre comerciante há pouco "morreu de trevessa", quer dizer, do que não aconteceu de vera pra matar um, mas que determinou a causa mortis "bem morridas". Traduzindo: Luiz papocou duma coisa que não existiu em si, e que nem de longe passou raspando. Ou seja, ele bateu o catolé do susto daquilo lá.

Por outras, estava ele, por volta das 17 horas, nos preparativos pra cerrar as portas do estabelecimento, quando dois fregueses raivosos abrem discussão por motivo fútil e um deles, sacando a arma, dispara, no interior da bodega de Luiz de Totonho, acertando a esmo o telhado. Luiz, o saudoso Luiz que só obrava na madrugada com a luz do celular acesa, contava o dinheiro apurado do dia, tomando tão medonho susto que morreu de repente, deixando uma namorada.

Fonte: O POVO, de 5/04/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.


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