quarta-feira, 1 de maio de 2024

JOSÉ MARIA CHAVES (1937-2024): um dínamo dos médicos escritores

 

José Maria Chaves nasceu em São João do Jaguaribe-CE, em 23 de outubro de 1937, filho de Milton Chaves, liderança política local, tendo assumido o cargo de prefeito duas vezes de São João do Jaguaribe, e de Cleomar Chaves, professora primária.

José Maria Chaves teve as suas primeiras letras com a sua mãe, em sua terra natal, onde fez o curso primário. Na adolescência, veio morar em Fortaleza, para dar continuidade aos seus estudos, concluindo o ensino médio do Liceu do Ceará.

A esse tempo de juventude, ele participava da Guarda de Honra da Igreja Nossa Senhora das Dores, nos anos dourados do bairro Otávio Bonfim, sob a orientação do Frei Teodoro Haerke, ofm, um notável frade da ordem franciscana menor e bastante afeito ao ludopédio, destacando-se José Maria como excelente jogador de futebol do time Montese, uma das principais equipes de futebol amador dessa igreja. A paixão nutrida pelo futebol, desde então, fez dele um aficionado da Medicina Desportiva, que se tornaria uma segunda especialidade médica.

Aprovado no vestibular, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) em 1956, formando-se médico em 1961. Quando universitário, respondeu pela coluna “Plantão de Hospital”, do jornal Unitário, escrevendo crônicas dominicais, e foi o goleiro titular das seleções de futebol da Faculdade de Medicina e da UFC.

Por indicação e encaminhamento dos Profs. Paulo de Mello Machado e Haroldo Gondim Juaçaba, o recém-formado Dr. José Maria Chaves seguiu para o Rio de Janeiro, a então capital federal, para cumprir especialização em Proctologia (bem antes mesmo da denominação vigente de Coloproctologia) no Hospital dos Comerciários da Guanabara (hoje, Hospital de Ipanema).

Ao retornar desse estágio, no princípio de 1964, instituiu a disciplina optativa de Proctologia, ofertada com quatro créditos (60 horas) aos estudantes da Faculdade de Medicina da UFC, que viria a se consolidar com o suporte do seu amigo-irmão Pedro Henrique Saraiva Leão, recém-chegado do estágio no Serviço de Proctologia da Faculdade de Medicina da USP, com o qual ele montaria o Serviço de Proctologia na UFC.

Completou a sua formação pós-graduada com a obtenção da livre-docência, mediante tese orientada pelo Prof. Dr. Osvaldo de Oliveira Riedel, relacionada ao desempenho muscular esfincteriano anal, correlacionando-o ao fator emocional, como dado etiológico de determinadas lesões fissurarias. Sua tese, intitulada “Fissura Anal e Ansiedade”, foi defendida em 1979 na UFC, perante a Comissão Examinadora constituída de dois grandes especialistas vinculados à Universidade Federal do Rio de Janeiro e três brilhantes cirurgiões locais, além de serem professores renomados da Faculdade de Medicina da UFC.

Era professor-adjunto aposentado, desde 1994, da UFC, na qual ingressou em 1964, lotado no Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina, tendo sido chefe desse departamento, de outubro de 1987 a agosto de 1991, e coordenador do Curso de Medicina, de maio a setembro de 1987, e coloproctologista aposentado pela Previdência Social, por ter trabalhado como profissional liberal da Medicina durante décadas.

Foi, ainda, como especialista em Medicina do Trabalho, médico dos Correios, do qual foi aposentado, depois por muitos anos de serviço, e da Federação Cearense de Futebol, sendo responsável pelo Exame de Controle de Dopagem. Aposentado do serviço público, seguiu na labuta como cirurgião, viajando regularmente à Limoeiro do Norte, para operar pacientes do Vale do Jaguaribe, como forma de servir à sofrida gente cearense, tão desprovida de serviços cirúrgicos especializados.

Era um ativo participante de várias entidades médicas nacionais e locais, tendo sido presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

No campo literário, era poeta, romancista, novelista, pesquisador de poesia popular, cronista e memorialista; apreciava declamar em público poemas e trovas.

Atuante como membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores (Abrames); membro fundador da Academia Cearense de Médicos Escritores (Acemes); da Academia Limoeirense de Letras (ALL); imortal recente da Academia Fortalezense de Letras e da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo; conselheiro do Jornal do Médico; sócio da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional Ceará (Sobrames/CE); e da Sociedade Cearense de Geografia e História e da União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL).

Ingressou, efetivamente, na Sobrames em 1996 quando assumiu a tesouraria do XVI Congresso Brasileiro realizado em Fortaleza. Participou de quase todas as Antologia da Sobrames-CE, desde 1994, e de todos os números da Revista da Acemes. Ex-Presidente Nacional da Sobrames e da Sobrames/CE, da ALL e da Acemes, sendo atualmente o presidente de honra dessa última.

Dentre suas obras escritas e publicadas, figuram: “Além do Mais” (Prosa e Verso); “Uma Turma Proficiente” (memorialista); “O Nubente” (romance); “Alzira” (romance). No prelo, para lançamento próximo, “Olívio, Questionamentos da Vida” (novela). No momento, estava escrevendo as suas memórias da infância em São João do Jaguaribe.

Foi laureado com a Medalha Jurandir Picanço, por relevantes serviços prestados ao ensino médico cearense, e homenageado pela Câmara Municipal de Fortaleza por sua atuação na Sobrames/CE.

Católico praticante e devoto de Nossa Senhora de Fátima e de Nossa Senhora de Guadalupe, integrou distintas associações laicas cristãs: Cursilhos da Cristandade, Movimento Familiar Cristão, Carmelo de Santa Terezinha, Congregação das Filhas do Amor Divino e Sociedade Médica São Lucas.

Do duradouro consócio com a sua amada Maria Walkíria Araújo, união sacramentada nas terras cariocas, quando do seu estágio em Proctologia, resultaram quatro filhas: Christiane (médica pediatra), Viviane (médica auditora), Liliane (assistente social) e Thiciane (advogada e médica de família).

O súbito falecimento na noite de 3 de março de 2024 do Dr. JOSÉ MARIA CHAVES, esse conceituado médico proctologista e escritor cearense, enlutou seus familiares e o seu vasto ciclo de amigos e colegas, bem com as diversas entidades médicas, literárias e culturais das quais era um ativo integrante.

Segue em paz ao encontro do nosso Pai eterno, caro José Maria Chaves.

Cons. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Academia Cearense de Medicina – Cad. 18

*Publicado In: SILVA, M.G.C. da. José Maria Chaves (1937-2024): um dínamo dos médicos escritores. Jornal do médico digital, 4(45): 13-16, abril de 2024. (Revista Médica Independente do Ceará).


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